quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

POLÍTICA: A errada análise da situação síria por Obama


Na TVI24 anda a ser transmitido o excelente documentário de William Karel dedicado à atividade da CIA em que, a posteriori, alguns dos seus antigos responsáveis consideram estúpida a decisão de terem apostado fortemente nos mujahidin  afegãos contra os soviéticos, já que criaram assim os seus inimigos da Al Qaeda.
Hoje podemos equacionar o deve e o haver de tal opção. Ganharam os EUA mais mercados para os seus produtos com o desaparecimento dos países sob esfera soviética? Nem por isso, já que os lucros da globalização foram todos para os especuladores financeiros, conhecendo os americanos (classe média e trabalhadora) os efeitos dramáticos de uma desindustrialização responsável por índices significativos de desemprego e quebra no salário médio praticado sem esquecer a condenação de muitas cidades a cenários de ruína como se tivessem sido devastadas por guerras.
Dessa vitória de Pirro na Guerra Fria sobrou o 11 de setembro de 2001 e tudo quanto se lhe seguiu de paranoia coletiva, de gente estropiada mental e fisicamente no Iraque e no Afeganistão e de acumulação de um défice nas contas públicas, que virou ainda mais a população contra os desmandos do Governo Federal.
É pena que aconteça, mas Obama dá mostras de não ter aprendido tais lições ao designar a Coligação Nacional de oposição como “o legítimo representante” do povo sírio. Assume assim uma escalada contra o regime de Bashar Al Assad, que passará pelo fornecimento de armamento mais sofisticado a gente pouco recomendável.
Se é verdade que o regime em si não é composto por meninos de coro a verdade manda reconhecer que eles também não integram a oposição. E, mais ainda, subsistem questões que são normalmente esquecidas quando existe pressa em lhes reconhecer credenciais democráticas: não integram eles os salafistas, que os Assad sempre combateram? Mais uma vez não serão as mulheres - num país aonde possuíam algumas das principais regalias reconhecidas às suas irmãs ocidentais - a virem a pagar o ónus de uma orientação da sociedade do seu país para um islamismo conservador, como já está a acontecer com as tunisinas? Não é verdade que, confortáveis sob o regime dos Assad, as minorias cristãs ou alauítas temem os efeitos de uma dominação sunita a nível político?
Se é verdade que os últimos dias têm mostrado como a vitória da Fraternidade Muçulmana no Egipto não se revela tão sólida quanto parecia com o laicismo a ressurgir como reivindicação a ter em conta, a aposta da Casa Branca em tão ambíguas forças políticas demonstra que Obama avança para um segundo mandato tão passível de desiludir quanto foi o primeiro…

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