segunda-feira, 26 de novembro de 2012

POLÍTICA: Porque é que os franceses não vão em cantigas


No «Nouvel Observateur» desta semana o diretor Laurent Joffrin insurgiu-se contra mais uma malfeitoria praticada por uma das agências de rating relativamente à dívida francesa.
Porque o seu editorial também serve de interpretação adequada para a situação, que vivemos, aqui fica a tradução de um excerto particularmente pertinente:
Para estes procuradores mecânicos o mal francês tem uma única causa: o papel excessivo do Estado. Com uma despesa pública imensa e uma proteção social paralisante, a França enfrentaria a competição internacional com chumbos nos pés.
Para sair dessa situação uma única solução: liberalizar à maluca, fazer o Estado recuar, desregulamentar o mercado do trabalho, baixar os impostos aos mais ricos.
Ora, se é verdade que se impõe uma reforma do Estado e da proteção social, é completamente errado pretender o alinhamento da França pelo modelo liberal tão do agrado dos redatores do «The Economist».
Poderia pensar-se-nisso se os países, que tomaram essa via obtivessem resultados sociais e económicos claramente superiores aos da França. Ora, contrariamente a essa ideia comum, os países mais liberais não são os mais eficazes e ainda menos aqueles em que a sua população viva melhor. Longe disso.
No passado a França, esse país tão estatal e tão invadida por regulamentos, quase bolchevique aos olhos do mundo anglo-saxão, conheceu um desenvolvimento espetacular. Se a ação do Estado era naturalmente prejudicial, como explicar que a França tenha chegado ao pelotão da frente das economias ocidentais, que a sua taxa de crescimento tivesse sido durante muito tempo superior ao da maioria dos demais países e que, ainda hoje, apesar de todos os constrangimentos , continue a ser uma das economias mais ricas e poderosas do planeta?
Afirma-se frequentemente que os franceses vivem acima das suas posses. Que dizer dos americanos, cuja dívida pública é comparável à nossa e a dívida privada muito superior?
Que dizer de tantos outros países europeus com uma dívida pública comparavelmente superior? A Grã-Bretanha, que está a levar por diante as «reformas estruturais» tão reclamadas pelos liberais, sofre uma taxa de crescimento quase nula e desigualdades sociais como não existem em nenhuns outros países ocidentais.
Os países do Sul, aos quais «The Economist» atribui tantos elogios por causa da sua cura de austeridade, estão mergulhados na recessão catastrófica e impõem aos seus cidadãos inauditos sofrimentos sociais.
A austeridade imposta a todo o continente pelo dogma conservador está a matar o escasso crescimento, que ia havendo apesar da crise financeira, ela mesma desencadeada pelas loucuras da desregulamentada finança.



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