sábado, 29 de setembro de 2012

POLÍTICA: a origem da crise


A entrevista dada por Fernando Medina a Anabela Mota Ribeiro e publicada no «Jornal de Negócios» de sexta-feira, 28 de setembro, é bastante interessante a vários títulos pelo que merece ser abordada em vários textos deste blogue.
Comecemos pela origem da crise: sabe-se que Passos Coelho e Paulo Portas conseguiram a maioria absoluta para a sua coligação graças à utilização intensiva de uma tremenda mentira - a de que ela resultou das políticas do governo de José Sócrates, responsáveis pelo despesismo e pelas gorduras de que havia empolado o Estado!
Lamentavelmente essa mentira - tantas vezes repetida! - ainda é aceite como boa pelos ingénuos e pelos sectários, que recusam entender o enquadramento da estratégia do então governo socialista numa visão ambiciosa de modernização e de intensificação do potencial dos portugueses para construírem um país consonante com os mais avançados da União Europeia.
Mas, hoje, e ao mesmo tempo, que exploram o estafado argumento da pesada herança recebida do governo anterior, os ministros do PSD e do CDS não hesitam em desculpar-se com os constrangimentos exteriores sempre que têm de justificar as suas medidas. Mais: querem até ilibar as responsabilidades que lhes cabem atirando para outrem a autoria das suas estratégias, mesmo correndo o risco de pronto desmentido.
Quem não se lembra da recente versão segundo a qual a TSU seria uma imposição da troika, o que o representante etíope da mesma não tardou a negar!
Vejamos então como Fernando Medina explica a origem da crise, com argumentos que ninguém ousará negar: esta é uma crise sistémica, não é uma crise nacional. É uma crise da construção da zona euro no seu fundamental, não é uma crise da dívida pública.
E, mais adiante: Aderimos a uma moeda que foi percecionada (…) como sendo uma moeda sem risco. O que levou à convergência quase total das taxas de juro dentro dos vários estados soberanos.(…) Convergência que aconteceu independentemente das evoluções das dívidas públicas dos países.
A crise deflagra quando este mecanismo de seguro é quebrado (…) depois da falência da Lehman Brothers . (…) De 2009 para a frente assistimos a um recrudescer da crise, com tomadas de decisão ao nível do Conselho Europeu que (…) não tinham em vista resolver a crise. Tudo isto vai acontecendo até à tomada de decisão do BCE - de credor de último recurso.
 O que está em causa nas crises hoje vividas por irlandeses, gregos, portugueses, espanhóis, italianos e outros povos do sul da Europa, é a incapacidade da União e das suas instituições em se mostrarem à altura dos acontecimentos. Durão Barroso, por exemplo, é um dos principais culpados, seja por não propor soluções em tempo útil, seja por não encontrar forças nem argumentos para combater as intransigências alemãs, finlandesas ou holandesas.
Bem esperou José Sócrates, que acontecesse uma viragem política facilitadora da sua estratégia patriótica! E batalhava arduamente nos conselhos europeus para que tal sucedesse.
Infelizmente ainda vinha longe a vitória de Hollande em França ou a subida eleitoral dos trabalhistas holandeses. Mesmo nessa altura, ainda Merkel não sofrera tão esclarecedoras derrotas nas eleições estaduais em que a Alemanha se divide.
À posteriori podemos reconhecer que o PEC4 acabaria por nada resolver já que a referida decisão de Mário Draghi só agora ocorreu. Por isso poderemos acusar José Sócrates de ter protagonizado uma estratégia ousada e ter falhado por imperativo da maioria política da direita nas instituições e nos governos europeus. Mas ninguém lhe pode negar a coragem de ter tentado até ao limite das suas possibilidades. Daí que esteja por fazer a correção da imagem pública desgastada com que saiu da atividade política direta à conta desse fracasso e, sobretudo, da tremenda campanha mediática que, com mentiras e meias verdades, dele construiu uma má, mas imerecida fama.






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