sábado, 29 de setembro de 2012

FILME: «Young@Heart» de Stephen Walker (2007)



Há filmes que são autênticas pérolas. Passam-nos ao lado, sem darmos por eles, a menos que voz avisada nos alerte para a sua imprescindível descoberta. Ou, então, o acaso acaba por estar do nosso lado e rende-nos um par de horas de indescritível satisfação.
«Young@heart» até passou no Festival Indie há três anos, mas sobram escassos testemunhos dessa apresentação.
Agora a RTP2, em verdadeira missão de serviço público - pelo menos enquanto os Relvas e os Pontes a não destruírem -, permitiu-nos nova oportunidade de descobri-lo. E que descoberta!
Tudo começa com a enérgica Eileen, de 92 anos, a cantar um dos grandes hinos dos The Clash: «Shall I Stay or Shall I go?». Em off, Stephen Walker, o realizador, pergunta-lhe se não acha estranho, na sua idade, pôr-se a cantar temas punk, mas qual quê, ela está para isso e para muito mais, como se verá na hora e meia seguinte em que se multiplica em ousados exercícios de sedução aos homens que a rodeiam. Quão distante está a timidez, que a caracterizava na infância!
Mas para o realizador inglês o fascínio pelo coro de Northampton, Massachusetts, que dá título ao filme, começou em Londres aonde os vira num dos seus concertos. Enquanto não arranjou forma de atravessar o Atlântico para reencontrar os seus elementos enquanto, em seis semanas, se preparavam para o concerto seguinte, não descansou. Como reconhece enquanto balanço, ganhou de repente duas dúzias de avós!
Conhecemos assim o notável Bob Cilman que fundou a instituição em 1982 e continua a ser o seu diretor artístico. O carinho, a paciência, mas também a severidade com que leva os seus cantores a entoarem temas de referência da música rock, desde James Brown a Talking Heads, dos Ramones aos Somic Youth, dos Coldplay a Jimi Hendrix, fundamenta o seu sucesso.
Mas também conhecemos a vida pessoal de muitos desses cantores e cantoras, dois dos quais falecerão durante a rodagem, suscitando momentos memoráveis como aquele em que, uma hora depois de saberem uma dessas infaustas notícias, cantam «Forever Young» para uma plateia constituída por quem está encarcerado num estabelecimento prisional, mas não
O que Walker nos oferece é uma outra forma de encarar a condição de sénior, nunca desistindo de ser jovem no coração, mesmo que à custa de muito sofrimento físico. O esforço feito por muitos deles para não faltarem aos ensaios e darem o seu melhor constitui um belo exemplo de determinação e de inconformismo perante as limitações. Aqui não existem alibis, nem quaisquer outras formas de desculpas. E é por isso que, mesmo renovando continuamente os que a morte vai levando, o coro Young at Heart continua com uma bem preenchida agenda de concertos, quer pelos Estados Unidos, quer pela Europa.
«Como podemos não continuar?», interroga-se enfaticamente Bob Cilman. É que constitui essa a melhor homenagem aos que já entraram definitivamente para a história do grupo.

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