domingo, 2 de setembro de 2012

FILME: «NESTLÉ E O NEGÓCIO DA ÁGUA EM GARRAFA » de Urs Schnell e Res Gehriger



Ao comprar o grupo Perrier em 1992, que lhe abriu o mercado norte-americano, a multinacional suíça tornou-se a líder mundial da indústria agroalimentar e tornou-se o primeiro produtor de água engarrafada. Trata-se do setor de maior crescimento dentro do grupo: Peter Brabeck, o presidente austríaco do conselho de administração, anunciou em 2010 resultados globais a crescerem 10%, com o volume de negócios a mais que duplicar para atingir os 7,2 mil milhões de euros.
Um exemplo: em Fryeburg, (Maine, EUA), Poland Spring, a sua filial para o mercado norte-americano, paga dez dólares ao proprietário de um terreno em troca de 30 mil litros de água dali bombeada. Ora, a garrafa de 0,5 litro pode ser vendida até 2 dólares ao consumidor.
Para Peter Brabeck, a água poderá garantir ainda mais cento e quarenta anos de vida à Nestlé., empresa fundada em 1886 em Vevey.
A quem pertence a água? É a questão crucial do documentário. Numa das suas intervenções filmadas Peter Brabeck explica que reivindica-la enquanto bem público acessível a todos, é uma posição «extremista», só defendida por algumas ONG’s. Segundo ele trata-se de um bem alimentar como qualquer outro e como tal passível de como eles ser vendido. Esquece-se é de considerar que a água é um recurso natural que, em grande parte, escapa ao conceito de propriedade.
A Nestlé contenta-se em pagar os terrenos aonde implanta as suas infraestruturas de bombagem e de embalamento.
Quando as populações locais se insurgem, os advogados e os lobistas a seu cargo, sabem aproveitar o vazio jurídico na matéria para reivindicarem o direito de bombagem ilimitado e quase gratuito.
No Paquistão, próximo de Lahore, a sua fábrica Pure Life fez abaixar em 90 metros o nível do lençol freático local. As garrafas são exportadas para o Afeganistão e os aldeões a viverem junto á fábrica não têm acesso a elas.
Um pouco por todo o mundo, a Nestlé consagra um investimento significativo na busca de novas fontes. A exemplo dos pioneiros da corrida ao ouro, os seus estrategas sabem bem que os recursos em causa não são inesgotáveis.
Maude Barlow, especialista da ONU, lembra que a água é, hoje em dia, a primeira causa de mortalidade no mundo.
A Nestlé, que recusou qualquer participação no documentário, compreende que as opiniões públicas estão cada vez mais conscientes da rarefação dos recursos aquíferos e do que está em causa com o chamado «ouro azul». É por isso que é desenvolvido um marketing muito eficaz: nos países desenvolvidos e nos EUA em particular a água da torneira, mesmo sendo de ótima qualidade, como ocorre em Nova Iorque, é desvalorizada na perceção coletiva.
A Nestlé propõe fornecer aos domicílios a melhor água para a saúde se se beber muito e de características ecológicas, apesar dos camiões que a transportam e das garrafas de plástico em que estão acomodadas. Nos países do Terceiro Mundo, aonde o mau estado das infraestruturas dificulta a maioria da população á água potável, a Nestlé orienta as suas vendas para as classes mais abastadas, praticando preços elevados que a tornam inacessível aos mais pobres.
A Nestlé é, igualmente, pródiga em desinformação, como ocorre quando se autoelogia a pretexto da sua «responsabilidade social». Urs Schnell e o jornalista Res Gehriger quiseram comprovar no terreno: a comunicação do grupo vangloriava-se de compromissos humanitários já abandonados, como ocorreu no leste da Etiópia, aonde mandou construir canalizações para o aprovisionamento de um campo de refugiados com mais de 20 mil pessoas, mas que está obsoleto por falta de manutenção.





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