quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pete Seeger - The Titanic (Sub)


Quando o Caso das Secretas se assemelha ao iceberg, que afundou o Titanic, faz algum sentido recordar aqui a canção de Pete Seeger

Parecer e/ou ser um idiota


A triste figura, que Miguel Relvas vem fazendo, quer no plenário da Assembleia da República, quer na comissão parlamentar criada para o ouvir sobre o envolvimento com Jorge Silva de Carvalho, revela um Governo em fase acelerada de degenerescência, com os episódios a sucederem-se com uma frequência típica de quem já se encontra em final de ciclo de validade.
Para quem assiste à artilharia pesada disparada pela Oposição contra o Ministro, existe uma certa satisfação por o ver acossado, quando, ainda há pouco, parecia dotado de um poder inquestionável, que o levava a pressionar no sentido do saneamento de Pedro Rosa Mendes da Antena 1 ou de rasgar o acordo com Paulo Futre para comentar a presença da seleção portuguesa no Europeu.
A surpresa para Miguel Relvas terá sido a da reação de alguns jornalistas contra os seus métodos de condicionamento do que deve ou não ser publicado em jornais ou emitido por imagens ou sons. O desgaste político, que sobre ele recaiu em poucos dias, serve de lição para quem se julga ainda capaz de dobrar a realidade ao seu arrogante arbítrio. Se os Kadhafis ou os Saddams pareciam tão poderosos e acabaram como todos sabemos, o que se dirá de quem procura recorrer a métodos ditatoriais numa sociedade ainda sujeita às regras do jogo democrático?
E, ao colar-se tão imprudentemente ao seu ministro e amigo pessoal, Passos Coelho pode estar a assinar a sua certidão de óbito para mais cedo do que se esperaria: dificilmente a queda de Relvas não precipitará a sua. Nesse sentido o político vindo de Massamá lembra inevitavelmente uma célebre frase de Groucho Marx:
"Ele pode parecer um idiota e até agir como um idiota, mas não se deixe enganar: é mesmo um idiota!"

Citações do dia


Nunca é boa ideia definir como histórico um acontecimento demasiado próximo. Mas podemos estar a assistir, na Grécia, à última oportunidade para contrariar esta ditadura perfeita através de eleições livres e democráticas. E é isto que determinará se os europeus não serão obrigados, no futuro, a escolher entre a União Europeia e a moeda única, por um lado, e a democracia o Estado Social, por outro.
Daniel Oliveira, Expresso

Austeridade, confisco aos reformados, naufrágio da economia, recessão ou desemprego, será sempre o PSD a explicar. Há, pois, muito nervosismo e a última sondagem acrescenta-lhe imensa cafeína. A verdade é que PSD e CDS já viveram dias melhores.
José Junqueiro, Expresso

Este Governo do dr. Passos Coelho é um almofariz de ineptos e as críticas mais aceradas provém de gente como a drª Manuela Ferreira Leite, que não perde uma vezada sem ferrar uma ferroada nos governantes, por sinal, do seu partido.
Baptista Bastos, Jornal de Negócios

É estranho ver Passos Coelho, ao lado de Merkel, colaborar no cada vez mais isolado seguidismo contra os eurobonds. Como se os eurobonds tivessem sido inventados para nos aproveitarmos desonestamente da Alemanha. Entre toscas declarações de apoio e ambiguidades incompreensíveis, a imagem do Governo é confrangedora no seu ingénuo oportunismo.
António Correia de Campos, Público

domingo, 27 de maio de 2012

Atenienses somos nós todos!


Em dia de campanha de recolha de alimentos para o Banco Alimentar não deixámos de participar com o nosso contributo. No entanto, e por muito que persista uma opinião positiva sobre o esforço de Isabel Jonet e dos seus colaboradores, não podemos deixar de contestar uma iniciativa, que se insere claramente na típica caridadezinha tão própria da mentalidade mais conservadora.
Porque, num país decente, aonde o capitalismo e os seus defensores já estejam declarados fora-da-lei, será o próprio Governo quem deverá responsabilizar-se pelo direito de todos ao trabalho, à saúde, à educação e à habitação, que constituem os requisitos mínimos para uma existência condigna.
Por muito, que esse objetivo pareça longínquo, há sempre a expetativa de ver o tempo histórico acelerar-se e o caixote do lixo receber este sistema económica e financeiramente criminoso para o arrumar junto a outros declarados obsoletos como o apartheid ou a versão leninista do socialismo. Não esqueçamos que, no início de Maio de 1968, um jornal francês anunciava em parangonas que o país estava entediado… sem imaginar o surto revolucionário dos dias seguintes.
Nesta altura os povos europeus não se podem considerar aborrecidos. Pelo contrário ecoa com maior fragor o som ascendente de uma indignação coletiva. Que declarações como as de Christine Lagarde a propósito dos gregos só contribui para incrementar em quem já considera que atenienses somos nós todos.
Perante a miséria crescente de tantos europeus, a súbita alteração da realidade poderá ocorrer a qualquer momento. E não faltam Bastilhas para cercar e invadir. Porque aos utentes dos Bancos Alimentares somam-se muitos descontentes, que não aceitam a privação da felicidade possível enquanto dura a sua limitada existência...

As Citações do dia


Uma comunidade com os níveis de desemprego que brevemente se vão registar corre sérios riscos de desagregação. É uma comunidade disposta a correr atrás dum qualquer populista e que desprezará a democracia. Não vale a pena encher a boca com a ilusão do consenso político. Não há nenhum consenso político que resista ao desemprego e à fome.
Pedro Marques Lopes, Diário de Notícias

Tal como a introdução de taxas moderadoras na saúde, que surgiram envoltas no argumento de que apenas pretendiam combater as falsas urgências e os abusos na ativação de serviços hospitalares, também a introdução de propinas foi inicialmente apresentada como tendo apenas em vista reforçar o financiamento da ação social e da promoção da qualidade no ensino superior. Contudo, é hoje cristalino que estas mudanças foram apenas o primeiro passo, mas decisivo, para levar a cabo um plano de progressiva desdemocratização, contração e mercadorização dos serviços públicos de educação e saúde.
Nuno Serra, Ladrões de Bicicletas

Os serviços secretos mantém fichas sobre a vida privada de muita gente. Não, não são só islamistas e «perigosos» anarco-ciclistas. É mesmo dirigentes da oposição, dos sindicatos, jornalistas e outros. Que esta gente seja paga com dinheiro dos nossos impostos para fazer fichas sobre a nossa privada é perverso e nojento.
Ricardo Alves, Esquerda Republicana

Pete Seeger: Waist Deep in the Big Muddy

sábado, 26 de maio de 2012

As citações do dia


Tudo indica que o Governo estimou mal as consequências recessivas das suas medidas de austeridade "além da ‘troika'" e estimou ainda pior os efeitos da recessão na evolução das receitas fiscais. É por isso que os resultados, manifestamente desastrosos para a economia e para o emprego, se revelam cada vez mais contraproducentes também do ponto de vista da redução do défice. 
Pedro Silva Pereira, Diário Económico

A crise que vivemos - observe-se as suas dimensões nacional, europeia e mundial - é provavelmente o maior roubo organizado da história da Humanidade. As suas consequências podem ser gravíssimas.
Carvalho da Silva, Jornal de Notícias

Tudo o que diz o Executivo é nebuloso, contraditório, um processo de negação das evidências, que começa a assustar mais do que os sustos diários embutidos por esta gente. Vai-se sabendo, perante os factos e as circunstâncias, que a perturbação política e a barafunda mental dos governantes atinge aspetos medonhos.
Baptista Bastos, Jornal de Negócios

Se pararmos de fazer generalizações idiotas, que servem apenas para atirar para os que mais sofrem a culpa desta crise, e se nunca mais nos atrevermos a mandar calar os outros, como forma de impor o que defendemos sem nos darmos ao trabalho do contraditório, seremos obrigados, finalmente, a discutir o futuro deste país em vez de nos dedicarmos à flagelação de todo um povo. Nesse momento, os verdadeiros responsáveis por esta crise terão um problema.
Daniel Oliveira, Expresso

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mon 6 Mai, Maria de Medeiros


Em 6 de Maio a Maria de Medeiros também foi comemorar à Bastilha a vitória do François Hollande. E rodou este pequeno filme de cinco minutos disponível no You Tube.

E se o castelo de cartas ruir?


Compreende-se o drama existencial por que está a passar o PSD à conta do comportamento criminosamente inconstitucional de Miguel Relvas.
É que, desde há muito tempo, Passos Coelho só aparenta verticalidade porque esse seu amigo lhe tem servido de espinha. Apanhe-o distraído e sai asneira da grossa, como tem sido notório nas tão disparatadas afirmações dos últimos meses! E  deixe de contar com a sua colaboração quotidiana e logo confirmará aquilo que é: tão sólido como um molusco!
Que acontecerá, pois, ao Governo se o ministro dos Assuntos Parlamentares for empurrado para a demissão?
Com um Portas, que se tem sabido preservar para garantir a estocada definitiva no momento certo – aquele em que possa competir com o PSD pela liderança da direita! - o PSD estará condenado a uma tumultuosa convulsão interna.
A difícil unidade de que tem dado provas até aqui estilhaçar-se-á com os cavaquistas a puxarem para um lado, os bloguistas de direita catapultados para os lugares de «boys» de serviço nas assessorias dos ministérios a quererem conservar os ordenados com que nem sonhavam há ano e meio e os autarcas a fazerem os possíveis para não serem tão vitimados quanto prometem ser nas eleições do próximo ano.
Resultado: todos a culparem os demais por terem desperdiçado a ocasião para o exercício duradouro do poder e sem atenderem às suas próprias responsabilidades.
E como de costume: um espetáculo nada bonito de se ver de dentro, embora possa justificar algum gáudio a quem de fora o apreciar...
A queda de Relvas poderá, pois, constituir a ruína fragorosa do castelo de cartas em que assenta este governo, só tornado exequível pela coligação de há um ano entre a direita, o PCP e o Bloco de Esquerda para derrubarem José Sócrates.
Recordemos como apenas se limitaram a cavalgar a conjuntura de então que tornou quixotescos os esforços empreendidos pelo Governo para evitar o descalabro para que os eleitores decididamente se predispuseram nas eleições de Junho.
Desde então, pressupus a curta duração de uma governação de direita tão incompetente quanto a ensaiada por Durão Barroso após a defeção de António Guterres. E só não tornada tão memorável por essa augusta personalidade se colocar depressa a milhas à frente da Comissão Europeia!
Hoje ainda estou mais convicto da iminente exequibilidade do regresso do Partido Socialista ao governo muito antes do que pressuporia a duração convencional da legislatura. Em consonância, afinal, com a tendência europeia para recolocar nos seus centros de decisão os partidos ligados ao pensamento social-democrata ou até mais à esquerda se se vier a confirmar a vitória do Syrisa na Grécia.
Não resta, pois, muito tempo para que se prepare uma alternativa consistente, capaz de devolver a esperança aos portugueses...

Citações do dia


O euro é um barco à deriva que pode afundar-se a qualquer momento. Só há neste momento duas bóias de salvação – o “ami” Hollande e o “ami” Tsipras.
Ana Sá Lopes, i

Podemos viver nesta aridez de espírito, neste caucionar da agressão sem limites, neste vazio e neste coração oco, ostensivo, incoerente e fatal? A pergunta ainda não saiu dos círculos concêntricos das nossas inquietações quotidianas. Vamo-nos animando com os escândalos diários, e remetemos, para os fojos, a preparação de novos conceitos e de novas resistências.
Baptista Bastos, Diário de Notícias

Quando apresentou o DEO no Parlamento, o ministro das Finanças deu a ideia de atirar a toalha ao chão, quando afirmou que a evolução do desemprego tem "revelado padrões de comportamento diferentes do que seria sugerido pela experiência histórica". Que é como quem diz: ‘estraguei isto e agora não faço a mínima ideia como é se conserta'.
Pedro Carvalho, Diário Económico

Os gregos estão ensinar ao resto da Europa como deve funcionar a democracia, evocando a famosa frase de Abraham Lincoln, "a democracia deve ser o governo do povo, pelo povo, para o povo". Quando mais de 23% da população está desempregada, mais de metade na pobreza e deixa de haver esperança num futuro, que sentido fará para o povo grego continuar a votar em quem apenas consegue prometer a continuidade deste empobrecimento?
Sérgio Lavos, Arrastão

domingo, 20 de maio de 2012

A propósito das «confusões» de um suposto «Movimento Apartidário»!


O conto já tem uns anos, mas jamais o esqueci. O autor era Mário de Carvalho, que punha um dos seus personagens a repetir obsessivamente a mesma frase: «Não confundir género humano com Manuel Germano».
Recordei-a a propósito de um inenarrável post, que me chegou via mail e facebook e em que um suposto «Movimento Apartidário» (e o que há a dizer sobre quem assim se qualifica, porque, taxativamente, revela sempre uma ideologia de direita, senão mesmo de extrema-direita!) associa José Sócrates aos réus Duarte Lima e Isaltino Morais, como se pudesse haver alguma semelhança entre eles.
Acredito que muitos dos que partilharam esse post sejam ingénuos e nem sequer equacionem o quanto estão a colaborar com gente pouco recomendável. Mas, para que fiquemos devidamente esclarecidos, convém recordar que José Sócrates fica definitivamente ligado ao período da história portuguesa em que se recuperou o défice de quase 7% deixado pelos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes para menos de 3%. Que liderou o Governo, que mais fez pelo incremento da investigação científica portuguesa, pela aposta nas energias renováveis, pela requalificação das escolas, pelo regresso de tanta gente à escola por via das Novas Oportunidades, que desburocratizou a Administração Pública através do Simplex ou que pretendeu melhorar a saúde dos utentes do SNS com as USF (Unidades de Saúde Familiares).
É sabido que por ter afrontado interesses corporativos poderosos, a começar pelos titulares dos cargos da Justiça, os seus Governos em geral e José Sócrates em particular foi objeto da mais despudorada campanha de assassinato de carácter alguma vez praticada sobre um político em Portugal.
Sou dos que acreditam na possibilidade de, num futuro próximo, se descobrir quem esteve por trás das campanhas sucessivas, que dele fizeram alvo, a exemplo do que já haviam ensaiado com Paulo Pedroso ou Ferro Rodrigues.
Se se quiser apontar algo a José Sócrates então cuide-se de abordar porque não teve a sagacidade de compreender como, num contexto em que as teses neoliberais ganhavam força por toda a Europa, ele ainda continuava a crer nas virtudes das receitas neokeynesianas, assentes no crescimento da economia a partir da participação do Estado na criação de investimentos em infraestruturas.
Agora que faliram essas teses, particularmente fortalecidas com a bancarrota do Lehman Brothers em Setembro de 2008 e a urgência dos banqueiros em salvaguardarem o dinheiro investido em negócios de alto risco de carácter especulativo, e já todos - desde Obama a Merkel - voltam a falar de crescimento, é altura de enfatizar quanto Sócrates, quase sozinho, procurou implementar tal política!
Mas outra característica se deve nele elogiar: a vontade em sempre puxar pelo lado mais positivo dos portugueses, a cujo orgulho de povo com muito de heroico no seu passado, não se cansou de apelar.
Esta semana, como dizia Clara Ferreira Alves no «Eixo do Mal», chega a ser humilhante a comparação do comportamento dos portugueses com os gregos. A estes podem-nos querer dobrar com ameaças, com cortes de apoios financeiros e outras táticas criminosas de que Barroso, Schauble e outros figurões têm servido de tenores, que ninguém os faz vergar a cerviz! Eles mostram que têm espinha!
Ao invés, nós portugueses, vemos um Passos Coelho a arrojar-se, sem ponta de dignidade, aos ditames da troika e da srª Merkel num espetáculo indecoroso, que só nos pode envergonhar.
É neste contexto que esse suposto Movimento Apartidário vem colar Sócrates ao que de pior a classe política portuguesa produziu nestas quase quatro décadas de democracia.
Porque ínvios motivos? Os seus autores o saberão porquê!
Mas, os que creem num país mais justo e decente, não cavalgam obviamente nessa onda!

Pete Seeger - Guantanamera

Citações do dia


Pedro é primeiro-ministro num país com mais de um milhão de desempregados. E, apesar de às vezes não o parecer, existe na vida real.
Daniel Oliveira, Expresso

A indiferença é criminosa e não pode ser exclusivamente julgada de quatro em quatro anos. Os escândalos e as matreirices em que este Governo do PSD está embrulhado têm importância, bem entendido; porém, não atingem a expressão excruciante do desemprego e a indignidade do alheamento de quem manda.
Baptista Bastos, Jornal de Negócios

O desemprego galopante é um efeito colateral de uma política económica puramente ideológica, que o tinha previsto e que nem sequer o vê como um mal em si mesmo: criando uma massa de desempregados disponível para aceitar qualquer oportunidade, o desemprego ajuda a desvalorizar os custos do trabalho. O memorando da troika é apenas um pretexto para chegar onde sempre se sonhou. A única coisa que não está a correr como o previsto é que o ritmo de destruição da riqueza do país, das empresas e dos empregos, é maior do que aquele que os ideólogos desta maioria tinham antecipado e bem maior daquilo que é eticamente apresentável.
Miguel Sousa Tavares, Expresso

Já que não houve desvalorização fiscal, esta é a forma de reduzir, à bruta, os salários do setor público e privado. Por isso, as lágrimas de crocodilo ficam bem nas televisões mas não enganam. O crocodilo só chora porque, enquanto está a engolir a presa, tem de forçar os maxilares a abrir demasiado.
Nicolau Santos, Expresso

sexta-feira, 18 de maio de 2012

À espera de atos consistentes e consequentes


É enorme o desvario que percorre essa Europa burocrata, que vê os gregos na iminência de escolherem o Syriza como partido mais votado nas próximas eleições de 17 de Junho.
A um mês de distância podem-se adivinhar todas as ameaças, que lhes serão feitas para evitar o que se adivinha uma tendência progressiva dos povos europeus: a rejeição das políticas, que os menorizem, os depauperem, os desesperem!
E já não é só Angela Merckel ou o seu inefável ministro das Finanças: o próprio Durão Barroso, sempre habituado a inclinar-se perante os fortes, mas a falar alto com os fracos, julgou chegada a sua hora de glória depois de meses a fio a ser empurrado para os bastidores pelo singular casal franco-alemão agora em fase de reavaliação.
Para quem crê na democracia como modelo político mais justo e garante da liberdade dos cidadãos a provável vitória do Syriza só poderá ser objeto de grande satisfação. Porque é preciso dizer um rotundo não a esta caminhada europeia para o abismo. E, quando quem ostenta a sigla socialista ainda ficou na malfadada Terceira Via de Tony Blair procurando mudar apenas o acessório para que o essencial fique na mesma, é tempo de apostar em quem vê nessa palavra a tradução em atos consistentes e consequentes...

As citações do dia


A lei europeia está do lado dos gregos. Na formação da Zona Euro há um silêncio total sobre a possibilidade de saída dos Estados. E no Tratado de Lisboa, o artigo 50.º só prevê a possibilidade de saída voluntária dos países da UE, nunca a sua expulsão. 
Viriato Soromenho Marques, Diário Notícias
Perante a maior taxa de desemprego de sempre, tendo-se chegado aos 820 mil desempregados, tudo o que os portugueses ficaram a saber é que o Governo "não sabe", "não responde" e "não dorme". 
Pedro Silva Pereira, Diário Económico
Há, oficialmente, um milhão e vinte e uma mil pessoas desempregadas (819 mil contabilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística mais 202 mil que foram consideradas inativas, estando embora disponíveis para trabalhar). É uma brutalidade, um rolo compressor para milhares de famílias, uma gigante bola de ferro que destrói tudo o que apanha pela frente. Contas feitas, a cada dia que passa mais meio milhar de portugueses ficam desempregados.
Paulo Ferreira, Jornal de Notícias
A troika está preocupada? Claro. Nunca previu que o desemprego subisse tanto em Portugal. E sabe que o medo e o sentimento de injustiça, quando misturados, são maus conselheiros, podem ser explosivos. Entre o medo e a revolta há um pequeno passo chamado injustiça na fatura da crise.
Helena Garrido, Jornal de Negócios
Numa altura em que o discurso político adotou como "moda nacional" a hostilização dos trabalhadores e a crítica ao Código do Trabalho que se considera favorecer os trabalhadores, na nossa opinião, deveria ser efetuada uma reforma geral do empresariado português. O patronato português deveria ter um curso de formação profissional rigoroso e eficaz.
João Lemos Esteves, Expresso

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um novo recomeço


Era uma das imagens mais aguardadas destes últimos dias: como iriam encarar-se Ângela Merkel e François Hollande no primeiro encontro subsequente  à investidura deste último como presidente francês.
Estava bem presente a recusa dela em recebê-lo ainda na condição de candidato ao cargo e tudo quanto circulou pelos jornais europeus a respeito do seu papel na concertação de um boicote de diversos chefes de Estado e de primeiros-ministros no sentido de igualmente lhe negarem essa visita de cortesia.
Afinal os acontecimentos das semanas mais recentes causaram alguns engulhos nas certezas da chanceler alemã, que vê as teses neoliberais por si perfilhadas completamente desacreditadas pelos respetivos resultados  económicos e financeiros e pelas sucessivas eleições  - inclusive nalguns dos principais lands alemães - invariavelmente desfavoráveis aos defensores da sua falida receita.
Terá sido, pois, um Hollande mais confiante o que compareceu ao encontro de Berlim que, se temera, constituísse uma espécie de beija mão do suserano sobre o seu recém-empossado vassalo.
Impondo o aperto de mão no momento culminante, Hollande significou o distanciamento, que definirá o diálogo entre iguais, abandonando assim a subalternização aceite até agora por Sarkozy.
A indústria financeira, que Hollande sabe ser o seu verdadeiro inimigo, contará a partir de hoje com uma oposição, que se espera eficaz. Enquanto cidadãos do mundo merecemos, que ele seja bem melhor do que no-lo prometiam os arautos do mercado desregulamentado...

terça-feira, 15 de maio de 2012

As citações do dia


O Governo português começou a dar sinais de receio. O que demonstra bem a fragilidade de que não está muito seguro de si, e não passa de um servidor estremecido de quem julga ser superior. Se a simples vitória de um político moderado e cauto como Hollande causa tanta inquietação e sobressalto, que aconteceria no caso de forças mais à esquerda ascendessem ao poder?
Baptista Bastos, Jornal de Negócios

A austeridade falhou, não serve propósito algum, nem mesmo numa perspetiva neoliberal absoluta, de «qualificar» a governação de um Estado pelo resultado do abaixamento de juros nos mercados internacionais.
Nicolau do Vale Pais, Jornal de Negócios

Os gregos deram à Europa uma lição de democracia, de que é suposto eles terem a patente e de cuja essência a Europa anda tão esquecida.
Miguel Sousa Tavares, Expresso

Os efeitos que Passos & Cª querem ignorar daquilo que (não) vão fazendo


· O número de estudantes que desistem de estudar no estrangeiro ao abrigo do Erasmus está a aumentar. Este ano letivo mais de 700 alunos já cancelaram a sua participação no programa e as dificuldades financeiras são o principal motivo apontado como justificação.
· Portugal exporta menos 110 milhões com a crise em Espanha.
· Lucros da Caixa Geral de Depósitos caíram 90% num ano.
· Há cada vez mais crianças para adotar e cada vez menos famílias que as queiram. Entre 2009 e 2011 o número de menores sinalizados aumentou 22%, mas as candidaturas de casais ou famílias monoparentais interessadas em adotar diminuiu quase no mesmo ritmo - 18%.

Cada tiro, cada melro!


Este Governo vai acabar mal! É que a sua insensibilidade para com os nefastos efeitos, que está as suas políticas estão a causar aos cidadãos portugueses, atinge uma dimensão em cada dia ultrapassada por um episódio mais incrível do que os verificados em dias anteriores.
Desta feita, Passos Coelho até veio dizer aos desempregados para se alegrarem com a «oportunidade», que estão a viver! Porque deverá crer que, da sua insegurança presente, resultará a descoberta de Índias cheias de especiarias e de Brasis cobertos de ouro!
Para um oportunista, que sempre viveu à conta das cunhas obtidas por conta da sua passagem pela Juventude Social Democrata, uma tal afirmação só pode ser entendida como um insulto passível de gerar a maior das indignações. Padrinhos como Ângelo Correia são raros e confinam os seus favores a quem lhes aceitar servir de marionetas!
Mas a inabilidade de Passos Coelho e Cª para o exercício democrático da governação está a entrar em conflito até com a sua base social de apoio e, nomeadamente, com os autarcas laranjas a quem procura retirar poder … e, sobretudo, dinheiro através da retenção de verbas do IMI.
Numa altura em que o poder local está a confrontar-se com grandes dificuldades económicas devido à quase inexistência das receitas relacionadas com as licenças de construção de novos edifícios e com a urgência em corresponderem com responsabilidade social às necessidades prementes de muitos dos seus munícipes desempregados, a espoliação de tais verbas só pode ser entendido como prova de um total autismo quanto ao que está em jogo. Como alertou Manuel Carvalho no «Público» o aperto do garrote às autarquias poderá ser um desastre social para as populações depauperadas dos subúrbios das grandes cidades e do interior. Há problemas em que a proximidade conta e vale a pena notar que, desde o início da crise, a despesa social das autarquias duplicou para 350 milhões de euros.
Desarticular ou enfraquecer esta rede de proteção em troca do reforço da macrocefalia do Estado é um erro...

domingo, 13 de maio de 2012

Filme: «Os Donos de Portugal» de Jorge Costa


Vale a pena ver este filme sobre o controle da economia portuguesa por um pequeno grupo de grandes famílias...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti - Noite (Alice)



Estaria a escrever sobre outro assunto completamente diferente se não fosse sacudido pela notícia da morte brutal de Bernardo Sassetti nas falésias da Praia do Abano em Cascais. E, independentemente das causas, que possam explicar este inesperado desenlace, podemos considerar como mais do que uma coincidência estarmos a viver um dos mais ignóbeis ataques da direita no Poder ao setor da cultura em Portugal. Em que só se pode questionar como Francisco Viegas consegue ter estomago para dar a cara por esta completa negação de investimento estatal no setor que supostamente tutela!
O país fica muito mais pobre sem a criatividade do compositor e intérprete, cuja atividade prometia estar seriamente condicionada pelos rigores de uma austeridade, que limita a sobrevivência de quem na cultura procura explicitar o seu talento.
Porque sem condições para programar concertos para um público cada vez mais avesso a gastar o que não tem ou para se incumbir de encomendas para filmes que não encontram forma de financiamento, Sassetti, a exemplo de outros criadores nacionais, não encontraria motivos para grandes expetativas a curto e médio prazo.
Perante um Governo, que torna agónicas as promessas de austeridade em cima de austeridade, são muitos os motivos para espalhar pelos cidadãos um clima de depressão coletiva. Que explica muitos acidentes!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

pete seeger which side are you on


Lá chega um tempo em que temos de escolher em que lado da barricada queremos ficar!

À falta de argumentos não tardará a estratégia do insulto!


A previsão vale o que vale, mas um ano atrás, quando o Partido Socialista liderado por José Sócrates foi derrotado nas urnas, disse para amigos e conhecidos o fadário seguinte: durante um ano, Passos & Cª iriam usar e abusar do argumento da pesada herança recebida.
Durante umas semanas ainda houve quem tivesse dúvidas já que o líder do PSD afiançara não recorrer a tal argumento quaisquer que fossem as circunstâncias. É claro que tão «nobres» intenções duraram apenas umas semanas até que o inefável Relvas e as bancadas par(a)lamentares dos partidos do Governo começaram a invocar Sócrates sempre que ficavam sem argumentos para justificarem o injustificável: a completa negação de tudo quanto haviam prometido aos portugueses e as terríveis decisões que sobre eles já estavam a repercutir as tenebrosas medidas de austeridade.
A apenas um  mês de se cumprir esse ano de recorrente utilização do alibi Sócrates, ele deixa de colar na mente dos desiludidos eleitores, que já estão exaustos de tão pobres argumentos.
A vitória de Hollande em França e a óbvia derrota da direita grega só contribuirá para atiçar os desorientados ânimos dos governantes e deputados do PSD e do CDS, incapazes de imaginarem qualquer via exequível para fazerem o país sair da crise. E  por isso desesperam em agarrar-se à esgotada estratégia de diabolização do último governo socialista, nem que para tal instrumentalizem, sem qualquer escrúpulo, instituições respeitáveis (o Automóvel Clube de Portugal) , ou recorrendo ao fácil insulto pessoal como hoje tanto se ouviu a propósito da entrevista concedida por Mário Soares ao jornal «i».
Em que diz o óbvio: num mundo, que tanto mudou no último ano, e até nesta semana, ficar agarrado ao memorando da troika é uma completa insensatez!




As citações do dia


Estamos num momento em que a União Europeia, numa crise profunda e a querer sair dela, é ainda governada por aqueles que a provocaram. É indispensável e inevitável mudar. Porque se assim não for, assistiremos à desagregação e ao caos. Ao contrário do que se passava há um ano, o "Povo europeu" tem hoje uma perceção clara do beco sem saída em que o meteram. E quer a mudança. 
Mário Soares, Diário de Notícias

É mesmo este país que querem? Um país onde as pessoas passam a ir para as compras como quem vai para um campo de batalha? Um país de miséria humana? Se não o querem, então, por favor, quem tenha responsabilidades e poder não comece a construí-lo.
Pedro Tadeu, Diário de Notícias

A esmagadora maioria das pessoas dos países ricos emprega-se em organizações que agrupam centenas ou milhares de trabalhadores e jamais sonha criar a sua própria empresa. Isso é excelente, porque pouquíssimos dispõem de vocação ou competência para fazê-lo. Em contrapartida, nos países pobres muitos são forçados a criar o seu próprio negócio para fugirem ao desemprego.
João Pinto e Castro, Jornal de Negócios

Desgraçado Gaspar, que tão confiante estava de que a descida dos juros iria catapultar a economia portuguesa até à estratosfera e vê a democracia em plena carburação a dar-lhe cabo dos planos (alucinações?). Mas ainda vamos a tempo, seguramente... não será é com medidas de austeridade.
Sérgio Lavos, Arrastão


terça-feira, 8 de maio de 2012

Pete Seeger - "Forever Young"


A banda sonora de hoje tem uma canção de Pete Seeger, que nos deseja eterna juventude para conseguirmos levar sempre por diante os nossos sonhos.
Um tema apropriado neste tempo de esperanças renovadas...

A vitória de Pirro


No domingo à noite a direita europeia só pôde consolar-se com a aparente vitória do partido da Nova Democracia nas eleições gregas para exorcizar o desconsolo de ter contado com derrotas expressivas nas consultas verificadas em França, no Reino Unido ou na Alemanha.
Que interessava o facto de ter sido esse o partido causador do desastre financeiro da Grécia, quando se aliara à Goldman Sachs para criar um dos maiores embustes alguma vez congeminados em contas públicas e assim iludir as entidades internas e externas de supervisão? O socialista PASOK, liderado pelo infeliz Papandreou, bem tentara salvar o país do desastre sem ter sucesso e, ademais, pagando violentamente nas mesas de voto o preço desse voluntarismo ingénuo!
Agora essa mesma direita tem de reconhecer a vitória de Pirro, que os resultados de domingo lhe garantiram: nem com o bónus de mais 50 deputados resultantes de uma lei eleitoral feita à sua medida para garantir o triunfo, Samaras consegue o número de deputados suficientes para formar um governo estável!
A exemplo do que vai ocorrendo sucessivamente em diversos países europeus - excetuando os da Península Ibérica - cabe à esquerda tomar conta da resposta a esta crise e lançar-se na luta determinada contra os verdadeiros inimigos dos seus povos: as instituições financeiras, que ninguém elegeu, nem pode derrotar nas urnas, mas que sob a capa de agências de rating, de bancos de investimento, de fundos de pensões de reformas e de outras instituições, impõe regras iníquas, que resultam em desemprego massivo, em pauperização das classes médias, em recessão económica e em superlativo aumento no número de doentes depressivos e de suicídios.
A Mudança acontece agora, dizia um dos mais importantes slogans eleitorais de François Hollande. Só podemos desejar que ela se imponha rapidamente e inflita urgentemente este estado das coisas!