domingo, 3 de julho de 2011

Últimos dias de um estado de graça...

Para quem ouve os discursos de Cavaco Silva e os compara com os que fazia quando era José Sócrates o primeiro-ministro, a diferença não pode ser mais abissal: este é um presidente, que não consegue mascarar a sua condição de eleito de um quarto dos portugueses, nada dizendo aos que votaram contra ele ou nem sequer se dignaram a ir às assembleias de voto no dia das últimas presidenciais.
Ao colar-se tão ostensivamente ao Governo da direita, Cavaco arrisca-se a ficar conotado com o seu anunciado fracasso! Falhando assim o papel de árbitro face às intensas lutas sociais, que aí não tardarão a surgir. Porque nem é preciso a esquerda manifestar a sua opinião crítica a respeito das políticas a implementar: são os próprios patrões a colocarem-se na trincheira contrária, como é o caso do presidente da Confederação de Comércio, que confidenciou ao «Diário de Notícias»: Por mais que se incentive as exportações, se não olharmos para o mercado interno e não conseguirmos resolver o problema do desemprego, estamos a matar o doente com a cura.
É por isso que o estado de graça ainda vivido pelo executivo nestas duas últimas semanas terá em breve um epílogo turbulento.
O corte de metade do subsídio de Natal para a maioria das famílias irá pressupor uma tal quebra de consumo, que o comércio se irá ressentir de uma forma previsível: com mais falências de empresas e a condenação ao desemprego de muitos dos que aí ainda laboram.
Nesse sentido, constata João Marcelino num texto publicado no mesmo jornal, que mais uma vez se prova que governar é sempre mais difícil do que fazer oposição. (…) A ‘contribuição especial’ é o primeiro choque do novo chefe do governo com o mundo real das decisões.
Não seria negativo que Passos Coelho tomasse decisões desde que elas fossem acertadas, mas o problema reside, como o afirma Maria de Belém, no  caminho escolhido assente numa opção ideológica segundo a qual o Estado é o problema e o mercado a solução.
Conhecendo há tanto tempo a falta de carácter empreendedor pelos portugueses mais endinheirados, bem pode Passos Coelho esperar, que eles se deixem motivar pelos investimentos em produtos transaccionáveis: haja bancos a remunerarem-lhes lautamente os rendimentos depositados, para nem sequer ponderarem na colaboração do esforço de redenção financeira nacional! Até porque os sacrifícios agora pedidos dirigem-se exclusivamente aos que trabalham ou são reformados. Reconhece a capa do «Público»: novo imposto de Passos deixa escapar 80 milhões de lucros da bolsa e de juros. (…) Rendimentos de capitais podem não entrar no IRS.
Como é costume, quando a direita toma as rédeas do poder, cresce a injustiça na distribuição de rendimentos com os ricos a ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Para já não falar dos estratos intermédios, cada vez mais a juntarem-se aos da metade inferior da escala social…
Só é triste constatar como muitos dos que mais sofrerão com as políticas deste Governo, lhes deram apoio nas eleições, enganados por discursos eleitoralistas sem qualquer coincidência com a realidade ulterior.
***
Sabe-se que a Madeira está falida e muitas das suas empresas - habituadas a parasitarem o orçamento da região! - preparam-se para fechar as portas, atirando para o desemprego muitas centenas de pessoas.
É por sentir que a situação atingiu uma tal dimensão, que nem o governo do seu partido no Continente lhe poderá valer, que Alberto João Jardim voltou a ameaçar com o fantasma independentista.
É claro que essa possibilidade não se verificará nos próximos anos, mas eu sou daqueles que, em eventual referendo, votaria na independência coerciva daquela região. É que o Estado português pouparia dinheiro e nós seríamos poupados ao degradante espectáculo de um líder com feitio de bobo da corte, mas com argúcia de vendedor de mistificações...

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