quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Focinhos sem pudor

Enquanto leitor até prefiro Saramago a Lobo Antunes cujas pretensões ao Nobel sempre me pareceram excessivas e cujo sucesso junto de alguns críticos internacionais atribuo a um factor de moda. Mas, quando leio no «Expresso», que um grupo de militares ameaça «ir ao focinho» do escritor, não posso deixar de manifestar o mais veemente repúdio pelos agressores verbais em causa. É que, trinta e cinco anos depois do fim da colonização portuguesa, é tempo de agradecer a Revolução de Abril levada por diante por uma minoria esclarecida dessa classe militar, mas não esquecer que a sua maioria foi cúmplice do regime fascista na opressão dos povos africanos. E o mínimo, que se lhes exige, é algum pudor quando invocam o seu brio militar…
É que há guerras justas e injustas. E a História poucas dúvidas tem sobre o carácter das por eles protagonizadas no antigo Ultramar...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Expectativas exageradas...

A festa anual do PSD é bem reveladora da sensação de terra a fugir debaixo dos pés do seu novo líder. Se, durante umas semanas, Passos Coelho era o primeiro-ministro anunciado de um Governo, que não tardaria a substituir o actual  - e as sondagens pressupunham um fácil passeio até lá -  a explicitação das suas ideias estratégicas confrontou os eleitores com o que delas podem sofrer: menos despesas do Estado poderá pressupor menos escolas e centros de saúde do que os propostos pelo Governo até porque é intenção declarada deste partido o pôr um ponto final na gratuitidade de tais direitos.
Aperta-se, pois, o prazo para que Passos Coelho aproveite a oportunidade de captar os votos de quem está zangado com Sócrates e decidido a favorecer quem lhe seja contrário. O pior é que os eleitores despertam para a compreensão do que significa votar contra  em contraponto às razões para votar por. E aí arrisca-se a que, a exemplo do sucedido no consulado de Manuela Ferreira Leite, acabem por concluir o exagero de terem acreditado na morte política iminente do primeiro-ministro...

domingo, 8 de agosto de 2010

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Já são quinze as mulheres assassinadas este ano em Portugal em casos de violência doméstica, um fenómeno social para o qual as soluções não estão a ser bem sucedidas.
Talvez por serem irrisórias as queixas, que redundam em condenações efectivas de prisão, sugere o «Público».
Será apenas a falta de um efeito dissuasor desse tipo?
Tenho dúvidas.
Quando os assassinos matam as mulheres ou companheiras, estão tão eivados de ódio, que nem pensam nas consequências do que se preparam para fazer.
Sem excluir a relevância do castigo, o problema sugere, porém, outras vias, que passam pela educação, pela diminuição das frustrações suscitas pelo desemprego, pela miséria...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

AONDE ESTÃO OS NOVOS CAMINHOS?

Vivemos tempos complicados em que nenhum mestre do pensamento, seja à esquerda, seja à direita das ideologias dominantes, parece deter o segredo da fórmula capaz de devolver o anseio de utopia à multidão de descontentes com o actual estado das coisas.
Se de um lado ainda se lambem as feridas da queda de um Muro, que pareceu significar o dobre de finados por uma ideologia cujos fundamentos prometiam os melhores dos sentimentos humanos mas se concretizara em gulags, senão mesmo em genocídios polpotianos, do outro só se garantem maiores discrepâncias de direitos e deveres entre uma exígua minoria de oligarcas e a grande maioria de explorados.
Sem orientação quanto a quem seguirem, os eleitores seguem o caminho mais fácil e deixam-se seduzir por populistas apenas apostados em satisfazerem os seus interesses e os do seu grupo. Nem que para tal cultivem o racismo mais alarve e atropelem as mais legítimas liberdades.
E, no entanto, podem-se detectar alguns sinais de uma tendência em crescimento junto desses mesmos frustrados cidadãos: a execração do egoísmo dos que ostentam o seu poder e riqueza, o individualismo enquanto ideologia assente no «cada um por si e todos contra todos».
Esperemos que cresçam daí os novos rumos tendentes a fazerem frutificar a solidariedade e fraternidade entre os desvalidos de forma a impulsionar a emergência de uma bem necessária igualdade...