terça-feira, 27 de julho de 2010

UNIR A ESQUERDA

Tese singular e pertinente a que Rui Tavares apresentava ontem no «Público» a respeito da proposta de revisão constitucional de Passos Coelho: não é que se acredite no PSD no fim imediato do Sistema Nacional de Saúde. Mas ao aludir a essa possibilidade a direita irá procurar inseri-la no inconsciente colectivo para a exequibilizar mais à frente.
Num exemplo muito feliz, Rui Tavares dá este exemplo: imaginemos que o PSD propunha que o país relançasse o projecto de viagem até Marte. Mas, não sendo possível de imediato, acaba por propor, e conseguir, a destinada à Lua. Ora, a reacção adequada seria a de arrumar a questão com a constatação de nunca ter estado sequer em cima da mesa um qualquer programa espacial.
Esta estratégia denota uma inteligência, que não tem sido frequente na direita em Portugal. Se algo caracteriza o actual projecto do PSD  é a visão de objectivos a longo prazo, alcançáveis mediante pequenas e sucessivas vitórias imediatas.
É por isso que a esquerda terá de contrapor uma maior inteligência no que deverá fazer a seguir, procurando diluir divergências e propor o máximo denominador comum de tudo quanto as possa unir. Sob pena de abrir caminho a formas inaceitáveis de recuos civilizacionais no campo dos direitos da maioria sociológica da população...

sábado, 24 de julho de 2010

Os impasses de direita

A leitura dos jornais do dia vai confirmando a ideia de exagerou quem entendia chegado o fim da História com a vitória definitiva do deus Mercado sobre  o legítimo anseio da maioria da humanidade em ver cumprida a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Se a actual crise económica ainda serve de trampolim aos que querem inflectir o curso da História, momentaneamente travada pelas sequelas da queda do muro de Berlim, os sinais de incapacidade da direita ideológica para evitar as consequências de uma agudização das diferenças entre os muito ricos e os miseráveis vão-se acentuando.
Na Alemanha, Merkel atinge o nível mais baixo de aceitação das suas políticas. Em França Sarkozy não se consegue livrar das revelações do caso l’Oréal. Em Itália Berlusconi atola-se nos interesses antagónicos e explosivamente conflituosos dos seus principais apoiantes (Bossi e Fini). E, em Inglaterra, Cameron vai escandalizando o orgulho britânico com gaffes inacreditáveis, enquanto os seus parceiros liberais afirmam posições, que se justificavam na Oposição mas devem ser comedidas ao ganharem a dimensão de definição estatal.
É certo que a Esquerda ainda só vai ciciando alternativas políticas pouco convictas, mas não se duvida da sua necessidade de defesa do Estado Social tão vilmente atacado pelos ultraliberais. Falta-lhe encontrar apenas o modelo do seu financiamento sustentado. Incluindo a possibilidade de nacionalização de negócios rentáveis com os quais gere as receitas necessárias às suas políticas redistributivas.
Interessante será a leitura das próximas sondagens nacionais tendo em conta que, tão só começou a falar, a estrela de Pedro Passos Coelho logo começou a empalidecer. Tanto mais que reavivar o debate da revisão constitucional, quando os portugueses se preocupam sobretudo com o desemprego só contribui para, antes de experimentar a sua receita na prática governativa, ele passar à condição de «has been».


sábado, 10 de julho de 2010

NOVAS OPORTUNIDADES


Em discussões, que tenho alimentado com alguns críticos das políticas de José Sócrates, um dos temas obrigatórios é o programa das Novas Oportunidades. Para tais cultores da maledicência trata-se de uma fraude, porquanto constitui uma forma de atribuir diplomas a quem não tem conhecimentos que os justifiquem.
É outra a lógica desse programa, aliás bem expresso num caso relatado no «Público»: o comandante de uma das principais corporações de bombeiros da Beira Interior está agora a frequentar esse programa porquanto o 9º ano de escolaridade passou a constituir requisito obrigatório para essa função.
É certo que, provavelmente, o senhor em causa até talvez nunca venha a saber de matemática ou de geografia o que um aluno do 9º ano é obrigado a saber. Mas, pelo contrário, ninguém lhe baterá a palma nas melhores formas de prevenir ou apagar um incêndio.
No fundo, o que se está a qualificar é um conhecimento obtido da experiência de muitos anos e que é injusto depreciar em relação a outros de características menos aplicáveis na sua vida quotidiana.
É nesse âmbito que o programa das Novas Oportunidades faz todo o sentido.
Em discussões, que tenho alimentado com alguns críticos das políticas de José Sócrates, um dos temas obrigatórios é o programa das Novas Oportunidades. Para tais cultores da maledicência trata-se de uma fraude, porquanto constitui uma forma de atribuir diplomas a quem não tem conhecimentos que os justifiquem.

É outra a lógica desse programa, aliás bem expresso num caso relatado no «Público»: o comandante de uma das principais corporações de bombeiros da Beira Interior está agora a frequentar esse programa porquanto o 9º ano de escolaridade passou a constituir requisito obrigatório para essa função.

É certo que, provavelmente, o senhor em causa até talvez nunca venha a saber de matemática ou de geografia o que um aluno do 9º ano é obrigado a saber. Mas, pelo contrário, ninguém lhe baterá a palma nas melhores formas de prevenir ou apagar um incêndio.

No fundo, o que se está a qualificar é um conhecimento obtido da experiência de muitos anos e que é injusto depreciar em relação a outros de características menos aplicáveis na sua vida quotidiana.

É nesse âmbito que o programa das Novas Oportunidades faz todo o sentido.