quinta-feira, 27 de maio de 2010

Previsões exageradas

É algo de muito complicado em cada semana: diversas pessoas vão-me contactando porque, julgando-me em situação de maior poder do que efectivamente tenho, me querem pedir ajuda para lhes encontrar emprego, seja por estarem desempregadas, seja por já não receberem ordenados há alguns meses.
Esta frequência de apelos desesperados tem-se vindo a agravar nos meses mais recentes, sobretudo a partir da altura em que a crise financeira internacional se traduziu no ataque especulador à moeda única europeia, servindo-se da Grécia e de Portugal como os elos mais fracos de uma corrente orientada para toda a União continental.
Os defensores do dólar tinham passado por violento susto, quando viram essa moeda a perder relevância num mundo progressivamente orientado para a divisa rival, razão para não deixaram escapar a oportunidade de recuperarem a dominação anterior. Infelizmente, a direita europeia personificada na atarracada chanceler alemã foi sua cúmplice, ainda se está para ver se voluntária, se involuntariamente.
Para esta situação o Governo de José Sócrates nada pôde fazer. Balizado nas receitas keynesianas apostara nas grandes obras públicas como forma de dinamizar o mercado do emprego e gerar fluxos de circulação fiduciária em toda a nossa realidade.
Pode-se-lhe assacar muitas críticas quanto à exagerada ambição do referido plano de investimentos, mas ele era o único capaz de promover a criação de dezenas de milhar de postos de trabalho e de travar a provável recessão económica.
Não lhe foi possível traduzir essa visão em realidade. Por um lado, porque um conjunto de bafientos velhos do Restelo andaram a conspirar para parar com todos os projectos, voltando á velha solução salazarenta de guardar o oiro e manter a camada mais pobre da portugalidade naquele limiar de sobrevivência mínima tantas vezes geradora de desesperos suicidas. Depois, porque se manteve essa conjugação de interesses entre especuladores, agências de rating e a direita europeia para pôr um termo ao agregador euro.
Agora resta a José Sócrates ir cumprindo os programas do PSD, sem se libertar de uma espiral de descontentamento crescente do eleitorado.
Mas quero crer o quão errados estão os urubus atentos ao estertor do primeiro-ministro para o começarem a debicar. Quem já lhe preparou o discurso fúnebre bem o poderá guardar por mais algum tempo. Como dizia Mark Twain, as notícias sobre a sua morte são bastante exageradas...

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