quarta-feira, 28 de abril de 2010

PARLAMENTAR OU PARA LAMENTAR?

Tem sido confrangedor o espectáculo propiciado pelos deputados da oposição nas Comissões Parlamentares destinadas a apurar se José Sócrates sabia ou não o que se estava a passar em meados do ano transacto, quando a PT equacionou a possibilidade de comprar a TVI.
Olhando para o que se vai passando nessas sessões, os deputados da Oposição lembram aqueles célebres cortesãos de Constantinopla que, com a cidade em vias de ser invadida pelos bárbaros, continuavam a discutir o sexo dos anjos.
E, de facto, no que é que um negócio abortado contribui para resolver a crise por que passa o país. O que é que ganham os portugueses, quando vêem a atenção do Governo distraída por estas manobras fúteis da Oposição?
Mas as Comissões de Inquérito têm tido uma inesperada virtude: quando se trata de tentar encostar o Governo às cordas, a extrema-esquerda parlamentar (ou será para lamentar?) não hesita em considerar Manuela Moura Guedes ou Mário Crespo como arautos de um jornalismo respeitável.
O que essas sessões revelam é uma coligação mesquinha entre direita e extrema-esquerda para derrubar quem está a olhar para as ameaças exteriores fomentadas por especuladores financeiros sem escrúpulos e procura combatê-los com as melhores estratégias disponíveis.
Em tempos, que já lá vão, mas ficaram registados como brilhantes páginas da História nacional, quando surgiam invasores espanhóis ou franceses, todos se aliavam no propósito de defender a soberania nacional. Agora olha-se para o Parlamento e questiona-se se não abundarão por ali demasiados Miguéis de Vasconcelos. Porque o que dali se vai assistindo prefigura uma ignóbil traição ao interesse imediato da maioria dos portugueses...

Tem sido confrangedor o espectáculo propiciado pelos deputados da oposição nas Comissões Parlamentares destinadas a apurar se José Sócrates sabia ou não o que se estava a passar em meados do ano transacto, quando a PT equacionou a possibilidade de comprar a TVI.
Olhando para o que se vai passando nessas sessões, os deputados da Oposição lembram aqueles célebres cortesãos de Constantinopla que, com a cidade em vias de ser invadida pelos bárbaros, continuavam a discutir o sexo dos anjos.
E, de facto, no que é que um negócio abortado contribui para resolver a crise por que passa o país. O que é que ganham os portugueses, quando vêem a atenção do Governo distraída por estas manobras fúteis da Oposição?
Mas as Comissões de Inquérito têm tido uma inesperada virtude: quando se trata de tentar encostar o Governo às cordas, a extrema-esquerda parlamentar (ou será para lamentar?) não hesita em considerar Manuela Moura Guedes ou Mário Crespo como arautos de um jornalismo respeitável.
O que essas sessões revelam é uma coligação mesquinha entre direita e extrema-esquerda para derrubar quem está a olhar para as ameaças exteriores fomentadas por especuladores financeiros sem escrúpulos e procura combatê-los com as melhores estratégias disponíveis.
Em tempos, que já lá vão, mas ficaram registados como brilhantes páginas da História nacional, quando surgiam invasores espanhóis ou franceses, todos se aliavam no propósito de defender a soberania nacional. Agora olha-se para o Parlamento e questiona-se se não abundarão por ali demasiados Miguéis de Vasconcelos. Porque o que dali se vai assistindo prefigura uma ignóbil traição ao interesse imediato da maioria dos portugueses...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O PRENÚNCIO DE QUALQUER COISA?

Há quem avente a possibilidade de o vulcão islandês Eyjafjallajokull estar a anunciar aos europeus o iminente surgimento de um futuro previsível: o de vivermos sem as facilidades de deslocamento suscitadas pela aviação actual, remetendo-nos a uma sedentarização forçada suscitada pelo esgotamento das reservas petrolíferas.
E os motivos não têm só a ver com essa penúria de hidrocarbonetos: o fenómeno vulcânico das últimas semanas foi motivo de alegria para os ecologistas perante a comparação do carbono emitido pela erupção em si comparativamente com as emissões poupadas pelos aviões obrigados a permanecerem em terra.
Seja, pois, por razões de mercado, seja por consciência ecológica, este tipo de cultura em que passamos a vida a saltitar de aeroporto em aeroporto está condenado a evoluir para outro estilo civilizacional, porventura menos stressante.
Ainda na ressaca de uma crise, que pôs em franja os nervos de milhões de pessoas, somos incapazes de depreender as consequências imediatas de um tal pauzinho colocado na engrenagem capitalista. Mas que se relativiza a capacidade para os detentores dos poderes económicos e políticos moldarem a realidade à sua medida aí está a Natureza a lembrá-lo. Talvez ainda estejamos a tempo de evitar a ditadura dos oligopólios financeiros, que tanto nos têm prejudicado nos anos mais recentes...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

UM CORDEIRO NO MEIO DOS LOBOS

Está em curso uma violenta campanha internacional assumida por diversos economistas norte-americanos para demonstrar a similitude das situações económicas grega e portuguesa e a inevitabilidade de ambas saírem do euro como forma de, mediante os mecanismos de desvalorização da moeda própria, ajustarem as suas realidades aos padrões de competitividade existentes.
O que eles dizem é muito simples: como portugueses e gregos não conseguem garantir as mesmas produtividades que os alemães ou os escandinavos a única forma de conseguir um equilíbrio na balança de exportações com as importações será baixar o preço em euros de cada hora imputada pelos trabalhadores daqueles países de forma a garantirem um preço igual ou melhor do que o garantido pelos mais evoluídos. O que, pela impossibilidade de baixar nominalmente os vencimentos actuais em euros, se conseguiria muito mais facilmente se eles regressassem aos dracmas e aos escudos por via dessa desvalorização.
Visto assim, a situação até parece ter alguma lógica por muito que tenhamos de reconhecer a realidade quanto à produtividade dos nossos trabalhadores. Mas o que parece estar a acontecer é um ataque em forma  dos paladinos do dólar, que vêem a hipótese de matar o euro mediante uma campanha insidiosa contra os países mais frágeis da zona euro.
E, como perante tal campanha, os mercados reagem agudizando a já complicada situação financeira dos países atirados para a crista da onda mediática, essas opiniões deixam de ser objectivamente válidas para contribuírem significativamente para a produção dos efeitos, que antevêem.
Depois de ter sido seriamente ameaçada pelo euro  - que pareceu vir a poder converter-se na moeda de referência nos mercados financeiros - o dólar procura afastar o euro do caminho para melhor se confrontar com o yuan chinês, essa sim a moeda mais ameaçadora para com a ditadura da divisa norte-americana.

sábado, 17 de abril de 2010

UM SÓCRATES NADA MANSO...

Manifestamente José Sócrates e Francisco Louçã alimentam mutuamente um ódiozinho de estimação, que dá azo a cenas pouco edificantes na  Assembleia da República.
Desta feita foi a acusação de «manso» por parte do líder do Bloco de Esquerda  para com o primeiro-ministro.
Palavra recheada de conotações, essa mansidão extremou, uma vez mais, o relacionamento entre dois políticos, que poderiam ter muito mais a partilhar do que a separá-los.
E Sócrates teve um momento menos feliz, em que voltou a fazer emergir o «animal feroz », que há em si.
O episódio foi desvalorizado por outros políticos para os quais faz sentido a expressão «quem não se sente, não é filho de boa gente!»
mas, ao fim de todos estes anos, ele bem já podia colocar alguma temperança na sua maneira emotiva de reagir às provocações adversárias. Lá isso podia...


sábado, 3 de abril de 2010

FAZER OU SÓ PENSAR...

Houve um tempo em que aderi sem rebuços às ideias da extrema-esquerda maoísta.
Estava-se no dia 28 de Abril de 1974 e as esquerdas tradicionais personificadas em Mário Soares e em Álvaro Cunhal pareciam demasiado empenhadas em conciliações com os senhores da finança e da indústria para que se verificasse em Portugal uma verdadeira democracia assente na igualdade, na fraternidade e na solidariedade. E, na época, o MRPP parecia quem melhores argumentos para exigir a Revolução com que sonhava.
Nessa época Fernando Rosas era um dos principais líderes do movimento e Francisco Louçã já andava pelo trotskismo.
Trinta e seis anos depois, eles prosseguem na esquerda radical enquanto eu cumpri a lógica enunciada por Willy Brandt e inseri-me no enquadramento político da social-democracia tal qual é representado em Portugal pelo Partido Socialista.
E essa distinção entre gente mais conhecida da minha geração e eu mesmo reside na que separa o fazer com o pensar.
Quem não tem outra responsabilidade cívica que não enunciar o que pensa pode atribuir-se discursos ricos em ideias utópicas mas vazios em capacidade de concretização.
É isso o que se passa com os defensores de formas múltiplas de comunismo, que o tempo se encarregou de desmentir quanto às suas virtualidades em experiências de consequências dramáticas, amiúde responsáveis por recuos gravíssimos nos direitos das suas populações (como ocorreu nos antigos regimes progressistas africanos, todos eles substituídos por outros aonde grassa a corrupção, o fanatismo islâmico, a pobreza mais extrema, o analfabetismo mais comprometedor quanto ao futuro).
Quem, como sucede com Sócrates, tem de mostrar no concreto como se poderá aliar a criação de riqueza com regras de justiça social, o desafio é muitas vezes difícil e põe em causa os princípios ideológicos mais consistentes.
Para muitos dos que criticam o Governo a propósito do PEC, está esquecida uma célebre lição de Lenine para quem a forma de dar dois passos em frente equivale a recuar momentaneamente um.
Desde que não se perca de vista o que se pretende a prazo!