quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Uma das maiores interrogações, que me tenho colocado nos últimos anos, tem a ver com a transição, quase sem escalas pelo meio, empreendida pela classe operária francesa da esquerda comunista para a extrema-direita de Le Pen.
Como foi possível ao povo, que fez a Revolução de 1789 e se portou de forma tão heróica na Resistência à Ocupação alemã deixar-se, uma vez mais, ultrapassar pelas mentalidades trogloditas outrora representados pelos monárquicos ou pelos colaboracionistas?
A este propósito, Jean Daniel no seu mais recente editorial no «Nouvel Observateur» evoca uma conversa entre François Mitterrand e Pierre Bérégovoy no qual este considerava um perigo deixar as políticas de segurança dos cidadãos entregues ao discurso populista da direita. Porque a insegurança pública não é vivida por quem vive em condomínios fechados ou tem os filhos em colégios particulares. Esse medo permanente em ser assaltado, agredido, violentado, é vivido por quem coabita geograficamente com o lumpen e está na primeira linha dos seus ataques.
Embora o país já tenha passado por estatísticas bem mais preocupantes do que as actuais, esta questão não pode ser desprezada pela esquerda sob pena de ser aproveitada eleitoralmente por Portas & Cª.
Mesmo com a consciência de muita da criminalidade resultar de uma deficiente distribuição social da riqueza, a esquerda não pode assumir um discurso desculpabilizador de actos de delinquência. E não pode subestimar os polícias e os tribunais enquanto garantes da tranquilidade pública.
Por isso, sem ter ainda atingido a gravidade do que vai sucedendo em França, vale a pena interiorizar a recomendação de Bérégovoy enquanto é tempo. Sob pena de arranjarmos um qualquer imitador de Sarkozy para suceder a Cavaco Silva no Palácio de Belém... 

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