segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma geração perdida? Ou mais?


Interessante, como o quase sempre o são os seus trabalhos, a reportagem de Louis Theroux na cidade norte-americana de Fresno a seguir diversas vítimas da dependência das metanfetaminas, droga barata e fácil de produzir e de efeitos devastadores. Porque cria um estado de bem estar em quem a consome e ao qual se quer regressar o mais obsessivamente possível. Independentemente das consequências como se vê em casos de mulheres, que perderam os respectivos filhos para as Protecções de Menores, afinal a menos má das soluções, pois os que ficam com os progenitores acabam, eles próprios, a repetirem o ciclo de queda no abismo de que nunca se erguerão.
O que está verdadeiramente em causa é uma geração irremediavelmente perdida em vias de passar o testemunho a outra, que não consegue reencontrar-se…

domingo, 22 de novembro de 2009

Manifestações criptofascistas

Como não estar de acordo com Ferreira Fernandes quando, na crónica de hoje do Diário de Notícias, põe em causa os jornalistas que publicam sem sentido crítico o que alguém lhes vai soprando do lado da investigação?
Não tenhamos dúvidas: afinal não há nenhuma gravação de Armando Vara a solicitar a Manuel Godinho os dez mil euros, que surgiram em grandes parangonas e como resultado de presumíveis microfones de escutas direccionais utilizados pelos investigadores.
No entanto a lama aí fica: agora que surgiu nos grandes títulos de jornais, quem irá descrer desse «facto» afinal inexistente nos documentos da acusação. Um dia destes, se o vice-presidente do BCP sair ilibado das presentes suspeitas, quem lhe compensará os danos causados á sua reputação?
Está a ser trágica a forma como a investigação policial e/ou judicial está a condicionar a vontade política dos portugueses, utilizando a manipulação jornalística como veículo preferencial.
A liberdade de imprensa é uma conquista fundamental da democracia, mas há quem dela se utilize com os piores propósitos. Já estão á espreita os Berlusconis que, à pala do descrédito lançado sobre todos os políticos, se preparam para fazer da democracia uma verdadeira caricatura. E os jornalistas, que se vão deixando manipular, esquecem que, então, a própria liberdade de imprensa se tornará numa mera aparência sem substância.

LOBOS À SOLTA!

Os lobos continuam a uivar na serra. Ferozes, mostram os dentes e fixam-se na vítima, que até agora lhes tem escapado. Por quanto tempo?
A usura vai fazendo mossa no cabelo e na expressão de quem se tem mostrado determinado a cumprir a sua visão para a comunidade, mas não cessa de estar atento a quem lhe anda sucessivamente a querer morder as canelas.
Por quanto tempo irá aguentar? E o que será de nós, quando se lhe seguir um qualquer arrivista sem qualquer ideia eficaz para o país?

domingo, 15 de novembro de 2009

Feitiços e lamentáveis feiticeiros

Terá sido uma das mais amargas constatações do recém desaparecido Claude Lévi Strauss: a facilidade com que o oprimido se torna opressor, o exterminado se torna exterminador, o colonizado em colonizador.
Em dois documentários diferentes constata-se isso mesmo: num deles os australianos de origem europeia votam um ódio visceral aos que nasceram no mesmo espaço geográfico, mas de pais oriundos de países árabes. Ser muçulmano e ostentar uma tez mais escura, equivale a graves problemas num país cujas origens são, como se sabe, as mais contrárias a qualquer fundamentação de atavismos baseados na religião ou na cor da pele.
É claro que o proselitismo islamista justifica alguns receios, sobretudo, se traduzido em algo como o atentado da semana passada numa base americana pelo qual um psiquiatra de origem palestiniana assassinou a sangue frio uns quantos colegas. Mas a melhor atitude para com os fundamentalismos não deixa de ser a de contrapor a prática da Declaração Universal dos Direitos Humanos e eliminar as razões fundamentais do despeito desesperado dos terroristas: a miséria e a falta de uma educação orientada para a tolerância de quem é diferente.
O outro documentário a suscitar idênticas apreensões tem a ver com a África do Sul, aonde a população branca vive em situação de sitiada pela imensa maioria a quem no apartheid segregava e agora a ataca violentamente através de gangs de desesperados para quem a promessa dos amanhãs que cantam não travou a necessidade de sobreviverem no imediato, já que o desemprego e a miséria continuam a lavrar nas suas townships.
Num ou noutro desses países estamos muito distantes das expectativas de desenvolvimento harmonioso, que chegaram a alimentar. A luta de classes está aguda por tais lados e o racismo é apenas uma das suas vertentes mais odiosas...

domingo, 1 de novembro de 2009

A NOVA MISSÃO DA ESQUERDA

A frase  é de Victor Hugo e vem muito a propósito deste tempo em que, em vias de ultrapassar-se nova crise, o capitalismo ainda encontra forma de se manter por mais algum tempo, mas já se prefigura a necessidade de algo de completamente novo no horizonte: «Nada há de mais poderoso do que uma ideia cujo momento chegou»
Pode-se porventura pensar que o comunismo não singrou enquanto ideologia, porquanto era ideia de um tempo, que ainda não chegou. E assim terão fracassado na antiga União Soviética, na China, nos antigos países de leste ou em Cuba essas ideias de igualdade e de justiça. Pervertendo-se o seu conceito com uma aplicação, que só desmereceu a generosidade do que, á partida, se pretendia.
Quando são os próprios norte-americanos, ao mais alto nível, a compreender o abismo para que se tende à conta do défice progressivamente maior do orçamento federal, é caso para se considerar a possibilidade de se avizinharem graves tempestades no céu se vai acinzentando sobre as nossas cabeças.
Embora muitos desempregados estejam sem soluções, o sistema de mercado dá provas de alguma revitalização. Até quando?
Uma esquerda responsável deveria começar a preparar-se para mudanças urgentes, para as implementar com os menores custos sociais possíveis.
Recuperando valores e ideais, adaptando-os às circunstâncias do futuro próximo.

RECOMEÇO DO «PÚBLICO»

Confesso alguma expectativa em relação à nova direcção do «Público», que começou hoje a dar sinais de mudança no jornal, que foi referência de idoneidade e de respeito deontológico de princípios muito rigorosos durante os primeiros anos, e depois foi perdendo essa condição devido às posições extremadas de quem o liderava e o transformava em veículo de propaganda do que ditavam os neoconservadores norte-americanos.
Quando denota a consciência da percepção pública do posicionamento ideológico à direita do jornal, que importa corrigir, e aposta na isenção, na investigação e na profundidade, o editorial deste recomeço abre esperanças a quem já deixara de respeitar o que nele se dizia e só o ia acompanhando com a desconfiança de auscultar sobre qual seria a sua agenda escondida.
Afinal talvez não esteja definitivamente perdido o projecto de ter um jornal efectivamente empenhado em informar os seus leitores dotando-os das ferramentas necessárias para poderem formar opinião sem a tentarem manipular num sentido a contracorrente dos próprios ventos da História.
Por agora fica o benefício da dúvida!