sábado, 31 de outubro de 2009

E A TAL PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA?

Até pode suceder que José Penedos e Armando Vara sejam, efectivamente, corruptos e a operação «Face Oculta» fundamente com substância as suspeitas sobre eles lançadas pela investigação criminal. Mas, mais uma vez, uma matéria que deveria estar acolitada no segredo de justiça volta a cair na praça pública, sem que ninguém se escandalize com o verdadeiro passe-vite em que se converteu a ligação entre a Judiciária ou a Procuradoria Geral da República e a comunicação social.
Em vez de julgados na Justiça, os suspeitos são liminarmente condenados pela opinião pública, sem direito a defesa ou a contraditório.
Há uns anos, um homem bom, que deixara de ser primeiro-ministro da França suicidoou-se, quando não suportou ver o seu nome enlameado. Agora, como não reconhecer razão ao presidente da REN, quando ele se indigna ao «denunciar o despautério a que chegámos em termos de violação do segredo da justiça» e ao considerar que « o país perdeu o sentido do equilíbrio das instituições e deixou de respeitar os direitos dos cidadãos.»

CÁ SE FAZEM, CÁ SE PAGAM


Uma das boas notícias da semana foi a progressiva redução da possibilidade de Tony Blair se converter no primeiro Presidente da Europa. Mesmo dando de barato, que o cargo será ocupado por um político de direita…
Porque, de facto, entre Blair e eles, que diferença existe?
Blair era um suposto socialista, que não enjeitou prosseguir com as políticas conservadoras de Margaret Thatcher e que serviu de cúmplice à criminosa agressão ao Iraque por parte de George W. Bush. Um currículo que o deveria colocar no banco dos réus do Tribunal Internacional de Haia se aí se julgassem, efectivamente, os crimes contra a Humanidade.
Já é tenebroso contar com Durão Barroso à frente da Comissão Europeia. Não é por ascender a lugares políticos influentes, que um crápula deixa de o ser! Mas contar com Blair a liderar o continente seria demasiado!
Que outra condenação não tenha, já será merecida a irrelevância, que o antigo inquilino do 10 de Downing Street, terá no futuro dos cidadãos europeus.

domingo, 25 de outubro de 2009

Oportunismo Patronal

Não é que seja surpreendente a atitude dos srs das Confederações Patronais, que se apressam a defender aumentos nulos de salários para o próximo ano.
Já Vítor Constâncio deveria ter uma maior consciência social em honra do seu passado político: a frieza dos indicadores económicos não justifica a visão estreitamente tecnocrática que tem assumido nas suas funções no Banco de Portugal.
Se é verdadeira a ilação de uma recuperação, mesmo que lenta, da economia capitalista, se ela assenta na circulação da moeda e na dinamização do consumo enquanto factor preponderante para a criação da tal procura, que fundamenta a produtividade das fábricas e dos serviços, então muito mal vão os patrões, que depois de décadas de notória incapacidade para justificarem a subsistência de um efectivo sistema de economia de mercado no país, ainda se esforçam por transferirem para os mais pobres os efeitos de uma crise, que começaram por ser eles a fomentar.
Como questionava Karl Valentin, não se pode exterminá-los?

Uma Virgem Ofendida

Está no auge a polémica entre José Saramago e a Igreja Católica a propósito da figura divina e do papel da Bíblia enquanto manual de maus costumes.
Há quem defenda que as tropelias católicas já ficaram cingidas ao passado inquisitorial em que se queimavam pessoas por delito de opinião ou por judaísmo.
Não será tanto assim: foi à pala da Igreja Católica e com a sua empenhada conivência, que Franco espalhou sangue pelo solo espanhol.
Foi com o total alheamento do Vaticano, que o Holocausto se produziu.
Foi com todo o apoio da maioria das autoridades religiosas dos respectivos países, que as ditaduras latino-americanas torturaram e assassinaram milhares de opositores.
E, como está a ser público por estes dias na Irlanda, foram católicos quem cometeram milhares de abusos sobre crianças nas escolas industriais irlandesas no século XX, como agora foi divulgado no Relatório Ryan.
Com tão sinistra história, como pode a Igreja condicionar a opinião alheia às suas práticas. Mais valeria, que se dedicasse a penitenciar-se pelos muitos pecados, que tem assumido ao longo da sua lamentável existência!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O confronto entre o novo e o velho

Que toda a acção gera uma forte reacção não duvidamos, mas a participação de centenas de milhares de pessoas na manifestação contra a nova legislação antiaborto de Rodriguez Zapatero ou a forma como as rádios e televisões norte-americanas estão a incendiar sectores da opinião pública contra Barack Obama é bem demonstrativa de como o passado não cede espaço ao futuro sem luta, sem confronto sério.
Era Mao quem dizia que a Revolução não é um convite para jantar. Pois não! E as forças progressistas esquecem-se amiúde de se armarem devidamente contra a fúria reaccionária de quem lhe pretende semear obstáculos no percurso para um mundo mais justo.
Por isso, perante os milhares de contestatários que se fazem ouvir em Madrid ou nos States, deveriam erguer-se as vozes de milhões, que apoiam as políticas mais avançadas dos seus dirigentes.

UMA EUROPA ATOLEIMADA

O texto de Timothy Garton Ash no jornal «Guardian» sobre uma Europa acantonada nos seus paradigmas qual gaulês da aldeia de Astérix, e incapaz de sair das suas fronteiras para conseguir impor os seus valores e produtos, pode justificar caminhos ínvios. Por exemplo acentuar a importância de quem continua a acreditar na possibilidade de paraísos excelsos a partir do momento em que o Estado recue e o patronato assuma a iniciativa de «criar riqueza» para si.

Estamos a chegar a tempos perigosos para uma Europa, aonde se calaram as vozes progressistas e ganharam estatuto de líderes quem já revelara toda a sua mediocridade no lamentável episódio da agressão ao Iraque. Ver um Durão Barroso a presidir à Comissão Europeia ou um Blair a ser empossado como seu primeiro presidente só pode indignar quem os viu como meros fantoches da estratégia imperialista de Dick Cheney e de Donald Rumfeld.
Alegarão tais sumidades que se sentem legitimados pela força dos votos democráticos. Mas a experiência já demonstrou que, pela via eleitoral, os farsantes podem aceder ao poder, sejam eles Berlusconi ou Alberto João Jardim, Sarkozy ou Isaltino.
O que os actuais líderes europeus não têm é a visão de futuro, que as circunstâncias deveriam impor com naturalidade. A que preconizasse rupturas efectivas com a utilização irracional dos recursos energéticos e pugnasse por uma humanização progressiva na relação entre os homens. Assente no princípio básico de, independentemente, da cor ou da religião, todos termos a ganhar se se cativarem os esforços colectivos para objectivos bem palpáveis em benefícios por todos distribuíveis. É da união entre cidadãos de todas as latitudes, que se poderão conseguir alterações profundas na forma como enfrentaremos as ameaças iminentes.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Oráculos apressados

Há uns dias atrás Mário Soares expressou a sua admiração por José Sócrates argumentando o quanto ele aprendeu intensamente durante estes quatro anos de governo. Mesmo expressando algumas divergências - o primeiro-ministro situar-se-ia à direita do seu pensamento político - o fundador do Partido Socialista não deixou de enaltecer a forma como ele assumiu os riscos de uma governação complicada em função da tremenda crise por que passou o capitalismo ocidental.

É talvez essa sapiência, que leva Sócrates a revelar-se muito hábil ao convocar para São Bento todos os partidos com assento parlamentar para lhes ouvir as perspectivas para os próximos anos.
Para além de cumprir com a imagem dialogante, que vem afinando desde a derrota nas eleições europeias, Sócrates começa a endossar o ónus das futuras crises políticas para esses adversários só capazes de se entenderem no seu desentendimento com os socialistas.
E já se sabe o que redunda normalmente esse tipo de situações: o reforço de quem aposta na governabilidade responsável e a condenação eleitoral de quem se limita a dizer mal dos que fazem os possíveis por alimentar os sonhos colectivos de uma bem mais feliz existência.
Quem se apressa a prever um final próximo para a liderança nacional de Sócrates, é capaz de se vir a sentir bem defraudado...

domingo, 11 de outubro de 2009

UM NOBEL BEM MERECIDO


Já se passaram três dias desde o anúncio do Comité Nobel para o Prémio deste ano referente à Paz e a poeira está longe de assentar. Há quem se confesse entusiasmado com a consagração de Barack Obama (Mário Soares, Fidel Castro), há quem manfeste o seu claro desacordo (Vaticano, talibãs afegãos e republicanos norte-americanos), mas do que não sobra qualquer dúvida é sobre o carácter simbólico de tal escolha.
Pode-se, de facto, constatar que, embora tenha aberto novos caminhos de resolução para muitos conflitos e problemas até então bloqueados, Barack Obama ainda não conseguiu resolver nenhum. Mas que o vem tentando, ninguém duvida. No entanto algo de muito palpável já conseguiu: mudar o clima de tensão internacional em relação à época em que o anterior inquilino da Casa Branca ainda aí vegetava. E só isso já é merecedor de um prémio, que tem na origem esse reconhecimento de contributos concretos para um mundo mais pacificado.

sábado, 3 de outubro de 2009

FAZER HUMOR, NÃO A GUERRA!

Se há formas de humor muito bem sucedidas, as normalmente associadas aos judeus são das mais brilhantes. Basta pensarmos em Woody Allen para constatarmos como se pode apresentar como uma cultura aberta, capaz de se pôr em causa no que tem de mais profundo.

O exemplo dos dois judeus - um rabi e outro cantor da sinagoga - que se escandalizam por se verem imitados por outro crente quando se atiram para o chão e se colocam na posição de se humilharem perante o seu deus por serem «nada« (que desaforo o do outro por também se lhes querer comparar a eles no seu total despojamento perante Deus), dá razão a uma certa tendência genética para se sentirem superiores, mesmo quando parecem demonstrar a sua pequenez.
Que essa arrogância genética se reflicta no enorme drama humano, que ensanguenta e agride as consciências no Médio Oriente nada tem de anedótico.
Razão para desejar que, quem é hoje poder em Telavive, saia do sério e adopte a lógica do humor da sua cultura. Talvez compreenda, então, o quão criminosa é a forma como está a hipotecar todo o futuro do seu povo na região mediante políticas (de que os colonatos são o melhor paradigma!) inibidoras de qualquer plataforma de negociação justa entre as partes em conflito.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

NÃO HÁ SÓ PALHAÇOS NO ESPAÇO!

Muito embora se alinhem políticos de direita e de esquerda para comparecerem no programa, pode-se considerar que são os primeiros a servirem de bombos da festa às piadas dos gatos fedorentos. E, nestes últimos dias, tem sido Cavaco Silva um dos principais alvos da sátira.
Convenhamos que ele se pôs a jeito. É certo que Ana Gomes deu dele a mesma perspectiva ao propor que tenhamos paciência, tão patética foi a sua figura nestes últimos dias. Ao ponto de Camilo Lourenço questionar o que se passará com a sua extravagante conduta, ao analisá-la na sua crónica diária no Jornal de Negócios.
Mas ao sugerir que, ultrapassada a suspeita das escutas em Belém, Cavaco temerá agora uns mísseis à sua retrete disparados de São Bento, Ricardo Araújo Pereira e os seus companheiros insistem em ridicularizar Cavaco da forma mais eloquente. Porque o mostram com um comportamento paranóico apropriado a expedito internamento em instituição psiquiátrica!
Será, por isso, curioso verificar qual o efeito dos acontecimentos de Setembro nas sondagens regulares sobre a imagem dos políticos. Ele, que sempre liderava com percentagens de mais de 70%, arrisca-se a conhecer violento tombo. E a dar sinal de como se torna problemática a sua reeleição!
P.S. - E ainda andamos iludidos com o facto de estar na moda os palhaços (o fundador do Cirque du Soleil) irem armados em turistas espaciais para a órbita da Terra. Ainda ficam muitos cá em baixo!