terça-feira, 23 de abril de 2024

Milho aos pardais

 

1. Tão Amigos que nós éramos voltou a passar na Cinemateca na semana passada lembrando a frase sobre o quanto os personagens tinham querido mudar o mundo enquanto jovens mas, envelhecidos, acontecera-lhes o contrário.

Ela voltou a ter particular pertinência quando soube quem liderará a lista de deputados da AD ao Parlamento Europeu. Porque sendo natural - pelo menos era-o para a geração em vias dechegar à vida adulta no dia da Revolução dos Cravos! - que os jovens queiram transformar o mundo, fazendo-o mais justo e esperançoso, constitui enorme mistério porque alguns nunca o chegam a ser por os motivarem a preservação de uma realidade feita de exploração da maioria por uma minoria e um conservadorismo nos costumes a lembrar Ary dos Santos, quando lembrava quantos tinham sido concebidos em ceroulas.

Raras vezes me demorei a ouvir a criatura inventada pelas televisões mais do que o tempo necessário para fazer o higiénico zapping, mas sei que nada ganhei em nada dele reter sob pena de incómoda reação alérgica. Mas não duvido que está destinado a futuro político duradouro. Assim são premiados os que sejam prestativos servidores dos que agem na sombra como putativos donos disto tudo...

2. A primeira sondagem conhecida desde as legislativas ainda não coincide com os desejos de quem não se resigna com o golpe de Estado promovido pelos procuradores do DCIAP e anseia a retoma do curso dos acontecimentos prometido pelo governo da Geringonça. As esquerdas ainda não superam as direitas, mas para lá caminham. É só dar tempo ao tempo, que este é um interlúdio para dar milho aos pardais. 

domingo, 21 de abril de 2024

Imperativa a recuperação da consciência de classe

 

1. Pertinente a crónica de Rui Tavares Guedes na Visão a propósito da tendência dos bons resultados económicos já não bastarem para ganhar eleições e até serem “negligenciados nos inquéritos sobre a popularidade dos governantes”. Recorrendo à opinião de Paul Krugman e Francesco Rigoli conclui que “a política, mais do que um debate de ideias, transformou-se num duelo de estratégias de comunicação, apostadas em criar perceções desligadas da realidade”.

Fomentar ilusões - como a do trapaceiro choquinho fiscal de Luis Montenegro - estão a resultar em governos de que os eleitores deveriam fugir como da peste. Esperemos que a frase com que se conclui o texto se confirme: “no fim, como sabemos, a realidade vencerá sempre qualquer ilusão”

2. No Público de hoje o antigo ministro António Costa e Silva também glosa o tema, confirmando essa estratégia de comunicação, que levou as direitas a superarem as esquerdas em 10 de março: “Sempre existiu e existirá a mentira no espaço público, mas o que se passa é que hoje ela impera, dissemina-se rapidamente, o que é facilitado pela diminuição do pensamento critico e pelo enfraquecimento do poder de mediação dos media. A fragmentação das fontes de informação e as redes sociais criaram um mundo atomizado em que as mentiras e os rumores dominam e alimentam o ódio e o ressentimento.”

Razão para as esquerdas focarem-se num urgente trabalho nas redes sociais - já que as fontes tradicionais de comunicação são de quem nós sabemos quem!  - para transformarem esse ódio e ressentimento numa consciência de classe, que melhor identifique quem são os verdadeiros inimigos.

3. Poucas dúvidas sobram quanto à incontornável coligação das direitas (incluindo as ostensivamente xenófobas e racistas), quando o atual governo demonstrar a incompetência para lidar com a situação complexa, interna e externa, com que se confronta. E, na entrevista ao Observador , Passos Coelho pôs-se em bicos dos pés para ser ele a vir das trevas e, musculadamente, replicar o sentimento trumpista de vingança, que o tem amargado desde 2015.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Um videirinho de braços cruzados

 

1. É regra elementar aprendida no coaching: deve-se evitar a pose de braços cruzados, quando se discursa, negoceia ou interage de uma qualquer outra forma com quem se contacta publicamente. Porque dá a ideia de alguém retraído em si próprio, defendendo-se de imprevisíveis ameaças, que o possam atingir.

Luis Montenegro é pródigo em assumi-la - aliás a exemplo do que já acontecia com Passos Coelho e Paulo Portas na época da troika! - e, só nos últimos dias, vimo-lo assim,  primeiro perante Pedro Sanchez, depois num intervalo do Conselho Europeu.

Para além do medo a atitude defensiva de Montenegro tem outra interpretação: a de se sentir impostor na pele que o seu arrivismo o levou a vestir. E porque, intimamente - mesmo sem provavelmente ter visto o Barry Lindon  do Kubrick -, sabe quase nunca ser feliz o destino dos videirinhos.

Não é preciso grande esforço de memória para, comparando-se a António Costa, ser visto, interna e externamente, como um pobre amador. E os paralelismos vão-se confirmando com outros protagonistas no dia-a-dia nos debates televisivos : basta ver Alexandra Leitão apoucar Hugo Soares, ou Miguel Prata Roque rebaixar os morgados, que lhe ponham pela frente, para comprovar quanto os eleitores entregaram a governação a quem não tem talento, nem pinga de visão, para aquilo que só pode redundar num lamentável estrago.

2. O dia de ontem terá sido amargo para Lucília Gago e  seus acólitos com o Tribunal da Relação a dá-los como ineptos e eivados de juízos especulativos na imputação de graves acusações a quem se limitava a fazer o seu trabalho, quer do lado dos empresários do Data Center de Sines, quer dos governantes incumbidos de criarem as condições para o sucesso de um investimento de reconhecido valor económico e social para o país. Como comentou o insuspeito Manuel Carvalho na edição de hoje do Público tratou-se de uma evidente demonstração de abuso do poder judicial, que resultou na queda de um governo legitimado pela maioria absoluta, que o tornara possível. 

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Imposturas

 

Sobre o comportamento de Luis Montenegro, quer quanto ao episódio sobre a eleição do presidente da Assembleia da República, quer quanto ao o seu “choquinho” fiscal, têm-se utilizado os conceitos de «embuste» ou de «fraude», mas prefiro-lhes o de «impostura» por melhor adequar-se a sua personalidade, a de alguém a fingir competências que não tem e a querer passar-se por “sonso” a justificar o que nem os mais crédulos aceitam como explicação.

Tendo prometido muito para além do que um discurso honesto - mesmo em período eleitoral - pressuporia, ele defronta-se com um banho de realidade e vê-se a contas com um exercício da governação para que denota insuficiente talento.

Comparativamente com Cavaco - em quem busca inspiração no lema do deixarem-no trabalhar, ou na estratégia para almejar a uma próxima maioria absoluta -  Montenegro possui uma retórica superior, condizente com o mister de advogado, mas nada percebe de contabilidade pelo que resulta inevitavelmente contraditório o que diz com o que o obriga a fazer o ministro das Finanças. E assim já nem falou dos médicos no discurso sobre o programa do governo, nem se apresta a dar aos polícias e aos professores aquilo que exigiram com implementação imediata ao governo anterior.

Não o ajudará, igualmente, os problemas que o ministro da privatização da TAP enfrenta quanto ao financiamento da campanha eleitoral. Os casos e casinhos terão tendência para continuar por parte de procuradores que sabem residir na pressão sobre os políticos o melhor salvo conduto para não perderem o indecoroso poder de derrubarem governos e promover outros menos tentados a questioná-lo..

Como sucede com a maioria dos impostores não se adivinha promissor o futuro daquele que agora passou a residir em São Bento.

sábado, 13 de abril de 2024

Afinal eles nem sequer chegam a ser trogloditas!

 

Há um paralelo entre a máxima científica de se aceitar algo como verdade até desmentirem-nos as provas em contrário, com a revisão de alguns conceitos apressadamente coaptados para o léxico das ofensas substantivas dirigidas a alguém.

Burro, por exemplo. Quem se atreve ainda a apodar alguém com esse insulto, quando se conhece a verdadeira inteligência e simpatia dos burricos?

Palhaço é outro exemplo lapidar, sobretudo desde os gags de um cómico brasileiro que demonstrava como alguns poderes pretendem imporem-nos poses de bobos, quando não  sentimos nenhuma predisposição para tal.

Agora impõe-se a revisão de outro conceito depois de a ele associarmos aquela tremida gente, que se perfilou perante o “sábio” discurso de Passos Coelho. E mudei o adjetivo inicial, que os desqualifica por afinal eles não serem tremendos no despudor com que surgiram a defender tão esdrúxulas opiniões sobre o papel da mulher e a caracterização da família. Antes justificam a ideia de tremidos porque, como escreveu Luciana Leiderfarb, move-os “a raiva de não poderem controlar que o mundo mudou, mas eles não”, concluindo que “o problema é deles, não nosso”.

Inês Pedrosa ponderou na versão de trogloditas mas propôs-lhes outra designação à luz do que se vai sabendo sobre o papel feminino na época pré-histórica: as mulheres eram não só guerreiras assanhadas (e não só recolectoras de frutos!), mas também lhes devemos muitas das pinturas rupestres, que conhecemos. Nada que leve a associá-las às ideias de passividade ou de secundarizadas no exercício das artes, movesse-as ou não estímulos ritualistas.

Em termos civilizacionais os trogloditas batiam aos pontos os participantes e os autores dos textos incensados pelas direitas mais extremas. E não vejo nenhuma admiração por, entre eles, figurarem Manuela Eanes ou Guilherme de Oliveira Martins, porque quem não quer ser lobo, rejeita vestir-lhe tão convictamente a pele.

Mas, já que estamos a rever conceitos e pegando nos lobos... Bom, fica para a próxima vez, porque o tema afigura-se extenso e adequado a outras futuras perorações! 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Um (des)governo estroina e irresponsável

 

Não se pode classificar de chico-esperta a argumentação de Montenegro na apresentação do programa do (des)governo, a pretexto de, deixando-o passar, as oposições - e em particular o Partido Socialista - deverão aturá-lo nos quatro anos seguintes.

Trata-se, tão-só, de sabendo que os interlocutores não são parvos, querer acreditar que o são os eleitores chamados a pronunciarem-se sobre a sua continuidade quando, a curto prazo, Marcelo fizer jus a mais um cognome - o de «Liquidificador».

O problema maior é o de sabermos que, qual estroina sem tino, Montenegro prepara-se para esvaziar os cofres deixados repletos por Medina, desbaratando o esforço de credibilização da dívida soberana nacional com as borlas fiscais dadas a quem já conta com lucros indecorosos (banca, distribuição, EDP) e com a satisfação de reivindicações corporativas, que agora lhe farão pagar com língua de palmo as promessas feitas durante a campanha eleitoral.

E basta olhar para quem tomou posse como novo secretário de Estado do Trabalho para saber-se quem pagará os custos do estrago para o qual o Partido Socialista terá de voltar a fazer o papel de laboriosa formiguinha.

Perante os inquietantes sinais do que nos espera faz efeito de guerra de alecrim e manjerona aquela que se perfila na direita mais extrema com Ventura, ora entusiasmado com a profissão de fé inquisitorial de Passos Coelho, ora vindo atravessar-se-lhe ao caminho ao compreender quanto o mesmo poleiro pode ser demasiado exíguo para lá caberem dois desafinados galos.

E, porque assuntos mais importantes se perfilam, deveremos olhar para a Colômbia onde, apesar de sempre húmida a 2600 metros de altitude, e rodeada de florestas, a capital Bogotá só tem água para sustentar menos de dois meses do consumo dos seus habitantes. Porque por cá continuam a importar os turistas, que não olham para os recursos que consomem, e até anseiam por courts de golfe verdejantes onde possam passear os seus tacos. Aqueles que o (des)governo quer acarinhar para satisfazer os especuladores imobiliários comungados com os empresários do alojamento local...

terça-feira, 9 de abril de 2024

A desfaçatez de um zero à direita

 

A apresentação de um livro com um insuportável cheiro a mofo justificou o regresso à ribalta de um político, que para a maioria não endinheirada fez tudo mal em quanto pegou desgovernando enquanto voluntariosa marioneta da troika, retirando rendimentos e direitos a quem entendia demasiado fracos para o contestarem e, depois, fazendo ridículas birras por lhe terem tirado o “brinquedo”.

Agora, envolto numa nuvem de naftalina, decidiu perorar sobre temas mui prezados pelas gentes mais retrógradas deste país. Daí foi um passo ter-se implicitamente assumido como candidato presidencial com o beneplácito de quem já o foi, e quer continuar a sê-lo pela extrema-direita, e com a conivência de quem engole litros de água benta sem se lavar dos muitos pecados que comete, seja por atos, seja por omissões.

As televisões acorreram ao evento mas, que dirão dele todos quantos optaram pelas direitas no último ato eleitoral e não se reveem numa agenda decidida a revogar muitos dos avanços civilizacionais que, nos usos e costumes, se consolidaram nas décadas mais recentes? A menos que seja como aquele deputado do Chega, gozado pelo RAP no domingo passado que, de tez negra, defende uma Europa só para brancos, indo mais longe na desfaçatez, apelando, em sotaque brasileiro, que o país deve pertencer exclusivamente aos portugueses.

Se há gente nas direitas capaz de não ter um pingo de vergonha com o que diz, quando depois se vai mirar ao espelho, é possível que o político em causa ainda colha um número significativo de apoiantes. Seja porque o mau carácter o justifica, seja porque a inteligência não abunda nas meninges. 

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Afinal o problema estava no logótipo

 

Andávamos dele tão precisados e não sabíamos!!!

Com a urgência de quem se atirou com todas as ganas aos principais problemas, que afetam os portugueses, Leitão Amaro anunciou essa medida como a primeira do (des)governo de que faz parte.

Só por imprudente distração, não percebemos de quanto a falta da esfera armilar prejudicara as nossas vidas e como facilitará a resolução dos problemas por resolver na saúde, educação ou habitação. Em vez da varinha mágica temos o logotipo a corresponder à concretização das promessas de quem diz vir por quatro anos e meio para dar cabo de tudo quanto de bom se conseguira nos oito anos agora já pressentidos como saudasos.

Esta notícia pareceria ser a confirmação do ridículo, que acompanha a repetição da História do passismo, antes vivida como tragédia e agora prometida como comédia aparentada com a do período de Santana Lopes, o antecessor que, mais cedo do que o esperado, mereceu o epíteto de O Breve. Mas, reconheceu-o um dos principais jornalistas do Jornal de Notícias, é sinal do que aí vem: sabedor de quão pouca complacência contará do Partido Socialista, Montenegro já fez a escolha. No que o seu porta-voz anunciou como resultado da primeira reunião dos ministros ficou o piscar do olho ao Chega com uma referência nacionalista ao seu gosto pela mistificação histórica em torno dos ditos Descobrimentos, e o trazer à colação uma outra, a da corrupção, que os números das condenações efetivas concretizadas desmentem, mas a extrema-direita e a imprensa conseguiram inculcar nos eleitores como um dos seus maiores problemas. Mesmo que não saibam apontar um exemplo consistente quando indagados sobre um que tenham, de facto, testemunhado... 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Chonés por chonés

 

Não estava fácil a vida de quem, ontem à tarde, pretenderia entreter-se com o propiciado pelos canais generalistas ou noticiosos. Em quase todos assistia-se à consumação do golpe de Estado, que derrubou um governo com maioria absoluta e o substituiu por outro inventado pelas ações de um presidente e uma procuradora ali presentes com o óbvio destaque e, consensualmente, tido como um dos mais fracos da História da Democracia.

Fazendo zapping só se encontrava alternativa aceitável nos desenhos animados da RTP2. Particularmente os da tonta Ovelha Choné, os quais nos entreteve cá em casa durante uns bons momentos. É que chonés por chonés, não sobravam dúvidas sobre quais escolher... 

terça-feira, 2 de abril de 2024

À espera do vórtice

 

Tivesse António Costa apresentado um governo com as características deste que Marcelo hoje empossará, e não faltariam comentários depreciativos nas televisões. Uma equipa só com gente do próprio partido, a inexistência de independentes oriundos da mítica “sociedade civil” e nada se saber sobre quantas das mirabolantes promessas eleitorais deixará pelo caminho, tudo justificaria a atitude desdenhosa, que mereceria de tal gente.

Ao invés, sendo um governo de direita, é vê-lo ornamentado de enfáticos elogios, como se fosse um impossível bando de águias. E, no entanto, nem os bajuladores, ao serviço dos interesses de quem os guindou à condição de figuras mediáticas, conseguem iludir a fraqueza de um elenco, que sabe-se de vida curta, sempre à espera de um percalço suficiente para lhe fazer soar as trinetas da maldição que o acompanham desde o primeiro dia.

E será funesta ilusão a de Montenegro se se julgar a palmilhar as pegadas de Cavaco Silva em 1985: nem o Chega é o PRD, nem o Partido Socialista ´conta com uma liderança ferida pelo sangramento causado pela cisão promovida por Ramalho Eanes.

Em mares desconhecidos os navegadores precisavam de lucidez, mas também muita argúcia, para lidarem com os sinais de tempestade, ou de bonança, que divisavam no horizonte. Ora, para além de saber calar-se para poupar-se aos disparates mais imediatos, Montenegro não disfarça a miopia de quem só vê o que lhe está mais próximo. E não consta, que conte com binóculos miraculosos capazes de lhe evitarem a atração pelo vórtice final, o do desfazer do breve contentamento de se sentir talhado para destino maior do que o dos seus parcos talentos...

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Ouvir os ignorantes, privar com os feios, porcos e maus?

 

Quase nunca concordo com Miguel Sousa Tavares mas, desta feita, tenho de dar a mão à palmatória: subscrevo-lhe a opinião sobre o que fazer com os eleitores do Chega, não se justificando ouvi-los, nem sequer atender-lhes aos preconceitos.

Sejamos lúcidos: esses 20% de eleitores dividem-se entre os ignorantes, que não sentem apetência por deixarem de o ser, e os assumidamente feios, porcos e maus, que, em muitos casos conjugam-se em ambas as caracterizações.

Devem os demais 80% curvar-se à sua baixeza moral a pretexto de serem muitos?

Pelo contrário não há que poupar na arrogância de os desprezar, e, tanto quanto possível, amesquinhar. Porque, a exemplo do que sucedeu nestes cinquenta anos de Democracia, a solução passa por empurrá-los para os tugúrios onde se possam esconder e não se denunciarem enquanto seres vis e medíocres. Se, até recentemente, muitos xenófobos racistas tinham pudor em revelarem os sombrios pensamentos, porque os sabiam alvo da censura coletiva, só há que acossá-los e fazer-lhes reencontrar esse sentido íntimo de vergonha.

Daí Miguel Sousa Tavares ter razão quando reconhece não ser fácil, mas não se transigir na luta das ideias, no desmascaramento das mentiras e na exposição do embuste.

domingo, 31 de março de 2024

Ai as aparências!

 

Não é de hoje esta obsessão coletiva com as aparências! Andam tantos a queixarem-se de não terem dinheiro, nem estabilidade, mas as agências de viagens cantam loas ao sucesso das suas vendas e nunca se viu tanto carro a empatar a vida a quem, no trânsito, sua as estopinhas para chegar a tempo a compromissos com hora marcada. Fazer férias em sítios exóticos (dando disso conta nas redes sociais!), ou ter carro, faz parte das obrigações de quem, junto dos amigos e conhecidos, quer dar mostras de sucesso.

As aparências sempre foram importantes desde que a espécie humana ascendeu à condição de bípede e, muito mais tarde, na época romana até se pediu à mulher do Imperador que, não só fosse séria, mas também o parecesse.

Parecer sério é, precisamente, o que este novo governo não conseguirá. Imbuído de uma genética fragilidade - a de se obrigar ao conúbio com a  extrema-direita para manter-se em funções! - restar-lhe-á alternar entre a condição de mendigo e a de chantagista junto do principal partido da oposição para que o tapete não lhe fuja debaixo dos pés.

Só que, indiferente às angústias existenciais de Montenegro, Pedro Nuno Santos já definiu o que dele poderá esperar...

O que se passa no país ao lado até pode servir de prenúncio para o que se seguirá: até pode o Chega (a exemplo do Vox) perder votos para a direita menos malcriada e dar-lhe esperanças que, depois, se não confirmem. Porque, au bout du chagrin, a janela iluminada sorrirá à convergência das esquerdas. É que estas, depois de uma das somas de votos mais lisonjeiras da História da Democracia, só pode renascer das cinzas e retomar o papel que as circunstâncias lhe exigem para o momento seguinte a este interlúdio... 

sábado, 30 de março de 2024

Luis, o usurpador

 

Se quem o irá empossar mereceu-me o cognome de Fútil, o putativo  primeiro-ministro não fica mal com o epíteto de Usurpador. De facto, e comparativamente com quem virá a constituir breve intervalo entre dois ciclos - o de António Costa e o de Pedro Nuno Santos - ele prepara-se para usufruir das mordomias de um cargo para que não demonstra o devido talento (significativo que até agora seja o silêncio o que lhe tem valido maiores elogios!) e garantir o saque dos cofres cheios de que ganhou imerecida chave.

Que o proveito corresponda às suas fracas qualidades...

terça-feira, 26 de março de 2024

Novas metodologias para alcançar melhores resultados

 

1. Pensar fora da caixa - eis uma regra fundamental da gestão de empresas, que deve replicar-se na política como o agora substituído governo socialista acaba de comprovar.

Durante os anos de maioria absoluta seguiu-se a regra maquiavélica de apertar o cinto nos primeiros dois anos para lautamente o alargar nos dois seguintes, criando-se assim a expetativa de uma perenização no poder. Muitos comentadores de direita inquietavam-se com a possibilidade de uma infindável travessia no deserto por parte dos protegidos e por isso foi tão fácil concertar interesses - em Belém, na justiça e nas lutas corporativas mais ou menos orgânicas - para assegurar que isso nunca poderia suceder. Daqui a  uns anos, quando a distância histórica trouxer informações e perspetivas agora difíceis de entender a quente, esta teoria, mais ou menos conspirativa, terá provável confirmação por várias fontes.

Daí que tivesse sido necessário que António Costa, e quem o assessorava, levar em conta essa estratégia adversária e, atempadamente, tomar posições a tal respeito.  Que tal não sucedeu viu-se na forma como se comportou Vitor Escária, precisamente um dos que com tal se deveria preocupar e, por isso, ter apreço pelo conselho dado à mulher de César, mesmo não havendo provas de ilicitude no dinheiro vivo, que guardara no seu gabinete.

Entretido nos jogos florais com Marcelo - interessadíssimo em alimentá-los - António Costa perdeu o foco onde concentrar a atenção. E foi isso que acabou por precipitar o indesejável desiderato da sua governação.

2. Fernando Medina é outro exemplo interessante de como manteve os esquemas de pensamento em que melhor pretendia cumprir a sua missão quase circunscrita à sucessiva conquista de reconhecimento internacional pelas metas económicas invariavelmente superadas.

Depois de legar a Carlos Moedas uma herança, que este vai despudoradamente aproveitando para fazer de conta que tem obra feita (quando toda ela se deve à lançada pelo antecessor), volta a entregar ao ministro das Finanças da AD os cofres cheios, que este irá desbaratar sob pena de assistir a uma agitação social difícil de contentar, tantas e  tão irrealistas foram as promessas feitas a quem nela participou até agora. E o mais paradoxal será a forte probabilidade de, aberta a caixa de pandora, quem o fez a pretexto de derrubar o governo socialista, não a consiga agora fechar, porque alimentou-se a ilusão de, já e agora, tudo ser possível para alcançar melhor qualidade de vida.

3. O mês que aí vem também será desafiante para quem ganhou as eleições de 10 de março e é manifestamente contra os ideais abertos pela Revolução de há cinquenta anos.

Apesar das fundamentadas reservas relativamente aos relatórios oriundos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa - não é por acaso que foi onde Passos Coelho ganhou estatuto de «professor»! - o estudo “50 Anos de Democracia em Portugal: Mudanças e Continuidades Geracionais” demonstra que só 7% dos inquiridos olha para o legado deste meio século como negativo, sendo quase 70% os que o consideram benéfico. Assim pensam também os jovens apesar da mistificação sobre a predisposição para apoiarem o Chega.

4. Outro estudo, financiado pela Fundação Friedrich Ebert e agora apresentado na Fundação Mário Soares, revela uma evidente incoerência entre o discurso racista e xenófobo do Chega com o dos seus simpatizantes, que até se confessam próximos de outros partidos. O que  condiz com a possibilidade de, pensando fora da caixa relativamente à forma e conteúdo dos discursos de como se deverá contrariar as extremas-direitas, existir potencial para a esvaziar da presente relevância. Depois de crescer como sapo apostado em ser boi, é altura de, aqui e internacionalmente, criar as condições para estoirar o seu inflado vazio de ideias, mas tão cheio de mentiras e currículos delinquentes...